A escravidão foi um trágico período na história do Brasil. Deixou marcas profundas, evidenciou – e ainda evidencia – uma enorme falta de respeito a seres humanos, trazendo até estes nossos dias a desigualdade, o racismo e a discriminação. Hoje, 13/05, quando se relembra a assinatura da Lei Áurea, proibindo a escravidão e libertando todos os escravos do Brasil, é importante lembrar a influência, o grande e rico legado cultural e artístico trazido pelos negros escravizados. Os escravos negros eram oriundos de diversas etnias africanas e trouxeram um arsenal de tradições, hábitos, costumes e histórias, que se refletem es todas as esferas da produção artística nacional. Há tanto a se falar de cultura, artes, artistas e personalidades relevantes negras que não caberia aqui nomear todas elas, não há espaço. Vamos lembrar alguns destaques.
A cozinha brasileira tem uma grande riqueza de sabores, cores, utensílios, ingredientes e preparações, sendo que muito disso tudo tem origem africana. Desde o uso da panela de barro à chegada aqui do leite de coco, feijão preto, azeite de dendê, quiabo, dentre tantos outros, produzindo pratos tradicionais e bastante apreciados. Feijoada, vatapá, caruru, acarajé, moqueca, mungunzá, pamonha, quindim…quantas delícias… e estão na mesa dos brasileiros, de norte a sul.
A música é outro aspecto com influência valiosíssima dos africanos. Os instrumentos musicais – afoxés, berimbau, agogô, tambores – trouxeram a batida do samba, lambada, frevo, axé e todas as danças a eles associadas. As danças de roda, as palmas, a capoeira transformaram-se em manifestações brasileiras. Chiquinha Gonzaga, neta de escrava, foi das nossas primeiras compositoras. Aliás, o batuque, a música e a dança sempre tiveram forte ligação com o mundo religioso dos negros, especialmente o Candomblé e a Umbanda. As crenças e ritos religiosos dos escravos acabaram por se misturar com a religião católica, base religiosa do Brasil, de onde puderam vir rituais e festas de santos e a canonização de diversos santos negros. Outras festas populares se fazem presentes em vários estados brasileiros. A Folia de Reis, o Bumba meu boi, as Congadas, o Maculelê são alguns exemplos que persistem na manifestação cultural brasileira.
Além da gastronomia, música, dança, religiosidade, os negros se destacaram em todas as outras formas de expressão de arte, cultura e do esporte. Quem não se orgulha de Machado de Assis, que dispensa apresentações? O pré-modernista Lima Barreto com seu conhecido Triste fim de Policarpo Quaresma, Cruz e Souza – o Cisne Negro, importante poeta simbolista, Carolina de Jesus – uma das primeiras escritoras e poetisas negras do país, e a contemporânea Conceição Evaristo que levanta sua voz nos movimentos pela luta negra. E também Abdias do Nascimento, indicado oficialmente ao Prêmio Nobel da Paz em 2010.
Nas artes plásticas, entre tantos outros, temos o grande Aleijadinho, escultor e arquiteto que deixou obras impressionantes em pedra sabão e Mestre Didi, Maximiliano dos Santos, também escultor e escritor. Estevão Silva, pintor e desenhista, José Teófilo de Jesus , outro grande pintor.
Cada uma das manifestações de arte e cultura aqui citados, e os seus criadores, merecem livros inteiros para sua divulgação e conhecimento. E deixamos de citar uma lista imensa deles.
A escravatura comprometeu largamente a aceitação, compreensão e conhecimento da arte e cultura dos africanos no Brasil mas as relações estabelecidas e a força da atitude de muitos dos escravos, libertos ou não, resistiram e não permitiram que tanta cultura fosse varrida deste país, pra alegria de todos nós.
Conheçam mais: Museu Afro Brasil – www.museuafrobrasil.org.br