Oi, como você está? É a pergunta mais corriqueira ao encontrar alguém. A resposta varia muito e depende de como a pessoa se sente naquele momento. Falar do bem-estar refere-se à saúde física, mental e social, se estão satisfatórias ou, pelo menos, conduzidas da melhor forma. Já, dizer estar bem, demanda questões pessoais, de momento e, nem sempre respondidas com a verdade. ‘Estou bem’ é a resposta mais comum, automática, imediata, mesmo que não reflita a realidade.
São muitos os fatores que atuam no estar bem. Fatos e acontecimentos da vida e do mundo podem levar a desconfortos, momentâneos ou não, muitas vezes cíclicos, que começam e terminam, e, nem sempre, se percebe o quanto se manifestaram no estar bem.
No universo e na terra, a vida se recria nas inúmeras fases de acontecimentos que vêm e vão. São muitos os exemplos. O dia e a noite. As fases da lua. As marés. As estações do ano. A cada período, uma etapa se encerra e já tem outra prontinha pra começar. Na história do mundo, também é assim. Os grandes impérios, os movimentos artísticos, os ciclos de guerras, invasões e viagens marítimas. Cana de açúcar, borracha, ouro, café, tiveram seus grandes momentos, se iniciaram, se fizeram presentes e se fecharam. A vida de cada pessoa certamente sofre a influência desses ciclos externos, que se abrem e se fecham, deixando aprendizados, vivências, conhecimento.
E chegamos ao pobre ser humano que quer o bem-estar mas necessita do estar bem. Aqui os ciclos de vida são inumeráveis. Podem ser complementares, uns nascendo e outros se fechando. Um influenciando o outro, novos dentro de velhos, os antigos e os duradouros. A escola, o trabalho, as amizades, os lares, os relacionamentos, a vida. Todos com períodos cheios de lições e transformação. São ciclos que, ao contrário dos muitos que se vêem na natureza, não se pode saber nem quando nem como vão se encerrar. Muitos episódios podem fechar ciclos abruptamente – acidentes, doenças, infortúnios – e podem abrir outros num piscar de olhos – a solução, a recuperação, a cura, a decisão. Sentimentos diferentes se apresentam, é o momento de crescer e se reorganizar.
Independente de ser bom ou ruim, o ciclo deverá, um dia, ser encerrado. É a condição da vida. Muitas dessas fases se fecham sozinhas, naturalmente. Mas outras….há que ter coragem pra tomar a iniciativa e acabar com elas, doa a quem doer, para não se apegar a algo que, certamente, terá um fim. É preciso coragem para fazer um ciclo se fechar, perceber que ele, em nada, vai melhorar o seu viver, aliás, pode trazer amarguras e infelicidade, e o estar bem não acontece.
Ao encerrar um ciclo vem o luto, o vazio, a tristeza, uma certa desesperança. São estes os sentimentos que devem servir de combustível para os novos momentos que estão chegando. Aqui também é preciso coragem e determinação, partir para novos rumos. É preciso sabedoria para encontrar o momento certo e, então, usufruir dos novos ciclos que vão acontecer. Aceitar as novas ondas, mergulhar nelas, no caos que podem representar, ir de corpo e alma, sentir na pele a suavidade do toque da água e a força com que ela joga para um lado e para outro, turvando a visão e torturando com um barulho ensurdecedor. É preciso destemor e empenho para, se necessário, corrigir o rumo, enfrentar os erros e….continuar. O frescor dos novos ciclos traz novos ânimos. A vida se renova deixando a possibilidade de renascer, de encontrar novos desafios, de ser aprendizes das próprias vivências.
Não basta sobreviver ou viver por viver.
Todos queremos Bem-Estar mas necessitamos, primordialmente, Estar Bem.
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma de nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousamos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.” (Fernando Teixeira de Andrade)