A prática de ir à feira livre para comprar frutas, legumes e verduras tem diminuído bastante. Quem adquiriu este hábito sabe que é aí que são encontrados os alimentos mais frescos, de melhor qualidade e menor preço. Sabe também que se chegar cedo encontra preços mais altos, melhores produtos. Mas, no fim da feira, ficam nas bancas aqueles não tão bonitos mas bem mais em conta, é a famosa hora da xepa. Os produtos que sobraram podem não durar até o dia seguinte, então o melhor é descartá-los, tanto vendendo por um preço bem baixo como ofertando gratuitamente o que ainda pode ser aproveitado.

Essa “sobra” da feira – não encontrada nos supermercados – é muito rica para quem sabe aproveitá-la. Esses alimentos ou são menores, ou têm manchas e deformidades, ou estão quase estragando, e isto é muito depreciado pelos consumidores que esquecem que seu valor nutricional não se altera, valendo pelo baixo custo. E é sempre bom lembrar que alimentar-se bem depende muito mais de como se gasta e não de quanto se gasta.

A xepa é um dos grandes desperdícios de alimentos que existem por aí. Toneladas de produções agrícolas jogadas no lixo por falta de planejamento e organização, restaurantes, padarias e supermercados descartam outras tantas sobras de alimentos ou próximas do vencimento, fato inadmissível num país onde a fome permeia as camadas mais pobres da população, e sempre tendo em mente que o Brasil tem um dos lixos mais ricos do mundo, em quantidade e qualidade.

De alguma maneira desenvolveu-se na cabeça do brasileiro que sobras de alimentos não são dignas de serem ingeridas ou reaproveitadas. Seja pela possibilidade de produção em abundância ou por nunca ter enfrentado uma situação desesperadora de restrição severa de alimentos, essa mentalidade precisa ser revista e modificada. A começar pelo que sobra na panela e no prato de cada um. 

São muitas as causas de tanto desperdício. Já na cadeia produtiva, não só do produto agrícola mas também das indústrias de alimentos, até o consumidor final, a perda pode chegar a um terço do que é produzido, devido ao descarte ou à não utilização. As perdas econômicas são imensas e quanto maior o desperdício, maior o custo. É só lembrar que os custos de produção envolvem mão de obra, gastos com energia, petróleo, maquinários, beneficiamentos, processamentos, transporte. E há o custo ambiental onde o desmatamento visando aumentar a produção, os agrotóxicos e fertilizantes, a quantidade de resíduos sólidos, que levam ao stress da terra que não tem descanso e, muitas vezes, mal utilizada, gerando necessidade de recomposição com mais produtos ou ser substituída.

Entretanto, há uma saída: conscientizar e educar cada indivíduo. Se cada um fizer a sua parte, os frutos serão colhidos e sentidos na melhora do meio ambiente, no bom aproveitamento da produção com reflexos na economia e, principalmente, para uma alimentação mais completa, ajudando na qualidade de vida.

São vários os caminhos para o bom aproveitamento do alimento. Para que não haja sobras em casa, eliminando o desperdício, deve-se começar por planejar as compras, pensar no que realmente é consumido, para não haver excessos. Armazenar corretamente para que produtos não se deteriorem antes da hora. Quando cozinhar, lembrar que tudo pode ser aproveitado: folhas, talos, cascas, frutas, sementes, raízes, fazendo na quantidade do que será consumido e, se fizer a mais, reaproveitar a sobra numa próxima refeição, transformando ou congelando esse “a mais”. Ah!! Não coloque no prato além do que vai comer, é preferível repetir a jogar fora – não coma com os olhos. Já existem restaurantes – especialmente os rodízios e por quilo – que cobram se houver sobra de comida no prato.

Muitas ONGs estão voltadas para minimizar todo esse desperdício e combater a fome. Elas coletam os excedentes ou os alimentos próximos do vencimento – que muitas das empresas de alimentação separam e oferecem como doação – e os entregam para instituições filantrópicas. 

Não há qualquer demérito em transformar o pão em torrada, a torrada em farinha, a farinha em bolo. São tantas as sugestões!! Patê com talos de salsinha. Tempurá de folhas de cenoura. Carne moída com talos de espinafre e casca de banana. Carne de panela com casca de melancia e talos de couve. Suco de casca de abacaxi. Compota de casca de melancia ou de maracujá com hortelã. Creme de casca de laranja e limão. 

Olhe bem para o seu lixo e avalie o que você tem a ver com o desperdício.

Comentários

0 0 votos
Article Rating
Se inscrever
Notificar para
guest
1 Comentário
Feedbacks em linha
Ver todos os comentários
Gloria Alves Santos
Gloria Alves Santos
3 anos atrás

Desde pequena aprendi a não desperdiçar
E ensino para minha filha
Minha mae sempre dizia oque joga fora hoje falta amanhã

1
0
Adoraria seus pensamentos, por favor, comente.x
()
x

Assine nossa Newsletter!

[newsletter]