Isso mesmo, a chita. E, não é não aquela macaquinha, companheira inseparável do Tarzan, parceira certa em todas as suas aventuras pela selva.

Aqui entre nós, brasileiros, a chita é o nome de um tecido. Primo pobre da cambraia, é um tecido mais robusto e mais barato, com estampas de cores fortes, frequentemente visto de forma pejorativa por ser caipira, ligado à breguice, à miséria, ao atraso social. Mas…. a arte faz milagres e a liberdade de expressão que ela gera traz à tona emoções e culturas manifestadas em qualquer tipo de material. Então, a chita se transformou.

A nossa querida Minas Gerais é um dos berços da arte brasileira. O Barroco Mineiro, Aleijadinho, a mineração que trouxe todo um trabalho com ouro, pedras preciosas e a pedra-sabão, deram origem a belas obras de arte. Outro aspecto relevante em Minas Gerais é o artesanato com o uso da madeira, da cerâmica, das fibras naturais, produzindo trabalhos originais e revelando outros tantos artistas.

O Vale do Jequitinhonha, indo lá em direção aos limites da Bahia, apresenta características do sertão nordestino e é conhecido como o Vale da Pobreza por ter baixos indicadores sociais, mesmo apresentando uma beleza natural exuberante e uma rica combinação das culturas portuguesa, negra e indígena que por lá circularam. Consequentemente, o artesanato e, em especial o aproveitamento do barro transformado em cerâmica, fez da região um ponto de referência e já considerado Patrimônio Imaterial de Minas Gerais e, claro, do Brasil também.

E é de lá que vem o artista da chita. Nascido e criado no Vale do Jequitinhonha, cercado pelo ambiente rural, Gildásio Jardim sentiu a arte em suas mãos desde criança. Devido às precárias condições, ele mesmo fez sua primeira tela de pintura usando cartolina e tecido, onde pode se lançar e transpor para a pintura, suas vivências pessoais e culturais. Ao longo do tempo passou a usar a chita como pano de fundo, literalmente, trazendo para a arte a lembrança das roupas usadas pelos trabalhadores do campo. O artista, Gildásio, relata que começou a “fazer telas com essas estampas com o objetivo de provocar uma fusão entre os personagens do meu universo com as cores que eles trazem na vestimenta”.

Mais do que arte, este mestre coloca em suas telas a cultura de um povo, a influência da vida em suas emoções, a transformação que mexe com as lembranças, a vida mostrada na junção de retalhos, na metamorfose das cores e das formas em um espetáculo a ser admirado.

É arte brasileira. E arte é para ser vista e sentida. Não perca esta oportunidade para conhecer, apreciar e incentivar algumas de nossas raízes. 

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