O mais recente livro de Ken Follett – O crepúsculo e a aurora – lançado em 2020, vem reafirmar a importância desse autor para os amantes de livros históricos – não de história. Misturando dados, costumes e leis da época em que se desenrolam os fatos, com instigantes personagens e uma trama bem desenvolvida, o livro de setecentas páginas, retém o interesse do leitor do começo ao fim.
A história se passa nos tempos das Trevas, começo da Idade Média, entre 997 e 1007dC. Centrada na Inglaterra e nas disputas entre os anglo-saxões, os vikings e os normandos. O controle das terras estava nas mãos dos poderosos senhores feudais e do clero, que as distribuíam entre seus servos e apadrinhados, mantendo com eles uma relação de dependência. A igreja cristã estava em franca consolidação, mantendo e usando seu poder em nome de Deus.
A luta por justiça esbarrava nas relações entre o julgado e o julgador, as leis eram flexíveis, dependendo de quem praticava um crime. Assim como nos dias atuais, havia o conflito entre seguir com o progresso ou manter tradições, querer o novo ou ficar com o que era sabido e conhecido. A cultura escravagista imperava e os prisioneiros das guerras constantes eram vendidos como escravos, ficando, estes, à mercê de seus senhores, sofrendo todo tipo de abuso e agressão. O poder e o dinheiro permitiam tudo – desde a dominação do povo até a manipulação do certo e do errado. Desde que fosse do interesse dos Senhores, para a manutenção do poder e da riqueza, podia haver ‘vistas grossas’ a qualquer tipo de infração.
Na história há um certo bispo que, em função da relação de sua família com o rei, faz uso de todas as estratégias – dominação, fornicação, assassinato, falsificação, mentiras – para agir e obter os resultados pretendidos, usando o nome da igreja para ‘legalizar’ os meios e atingir seu fins. Após assassinar o meio-irmão para ficar com o controle da cidade – e não deixá-la nas mãos da cunhada – , um crime planejado a partir de uma mente fria e diabólica, consegue se livrar, no julgamento, através de uma boa retórica e apoio de seus liderados, e ser considerado inocente.
Mais de mil anos se passaram e a dominação através do poder, do dinheiro e das carteiradas, se mantêm ativas nos dias de hoje. Com interpretação e manipulação de leis, subjugando os pouco propensos a questionamentos, liderando com carisma e oratória, muitos governos continuam a comandar, sem grandes escrúpulos e sem qualquer preocupação com as pessoas”.
O autor relata em entrevista publicada no site wwacritica.net :
“O que acontece na história, e percebo isso sempre que estou estudando história para escrever romances situados no passado, é que o tipo de movimento sobre o qual escrevo sempre é precedido por dois passos para a frente e um para trás. Fazemos progresso mesmo que, às vezes, a gente ande para trás. Agora, com tudo o que estamos vendo – o populismo, o terrível aumento do racismo no mundo todo, os ataques às leis e à democracia – o que realmente espero é que isso seja apenas um recuo, um daqueles fenômenos de retrocesso como foi, no final dos maravilhosos anos 1960, eleger Richard Nixon presidente.”
Mas, esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Será mesmo??
O CREPÚSCULO E A AURORA
Autor: Ken Follett
Editora Arqueiro – 2020 – 704 páginas