Ao fecharem-se as cortinas dos Jogos Olímpicos de Tóquio, fica o legado de vários questionamentos a serem debatidos nos próximos anos. Unir povos e nações em jogos onde os lemas “Que vença o melhor” e “O importante é competir” sempre foi o grande propósito desses Jogos. Ao longo de suas edições da Era Moderna, muitas controvérsias foram levantadas e discutidas, muitos avanços foram implantados, desde a manutenção dos preceitos da antiguidade até a inclusão de novos esportes e a adequação à era atual. Uma dessas polêmicas foi a inclusão das mulheres nessas competições esportivas.
Na antiguidade as mulheres eram proibidas não só de participar mas também de assistir e torcer nos Jogos Olímpicos – era uma exclusividade dos homens. Quando retomados na era moderna, em 1896, a participação das mulheres foi proibida, seguindo os ditames originais. E foi aí que começou mais uma luta para reescrever a história e criar novos conceitos, enfrentando ideias machistas e barreiras sociais. Na edição de 1900, vinte e duas mulheres conseguiram participar em competições sem contato físico e em 2020, finalmente, conseguiram ser 48% do total de atletas, com representantes em todas as modalidades e de todos os países.
Assim, parece que a citação do Barão de Coubertin, idealizador das Olimpíadas Modernas, “É indecente ver mulheres torcendo-se no exercício físico do esporte”, foi definitivamente negativada, e a mulher aceita e respeitada. Será?
Entre outras polêmicas desta Olimpíada – arbitragem, presença de gays, transgêneros, transexuais, manifestações políticas, saúde emocional e mental dos atletas, veio à tona uma outra afronta contra as mulheres: que uniforme usar? Esta questão ficou mais evidente quando a equipe norueguesa de handebol de praia feminino se recusou a usar biquínis no campeonato europeu e foi multada em €1.500 por colocar shorts. Os comentários e críticas foram inevitáveis.
Observando as competições olímpicas femininas percebe-se que a exposição do corpo da mulher é mais evidente do que a do homem. Estes usam shorts mais longos e largos e, nos esportes de praia, não usam a sunga. Já as mulheres usam biquínis, shorts curtos e justos, tops, collants cavados, com a nítida intenção de fazer ver o corpo. Parece inacreditável que,
em 2021, as mulheres continuem sob a orientação de dirigentes homens, machistas e conservadores, que mantêm essa posição sexista na exposição do corpo da mulher, buscando contentar patrocinadores e oferecendo ‘colírio’ para os olhos deles mesmos.
Mesmo que a tecnologia tenha invadido o campo dos tecidos esportivos, criando roupas que facilitam os movimentos, controlam a absorção do suor e com mais conforto, mesmo que regras possam ser estabelecidas em jogos oficiais, a atleta precisa ser consultada para saber qual a roupa que a deixa mais à vontade, confortável e mais segura nos movimentos e, consequentemente, melhorando seu desempenho. Usar short ou biquíni, top ou camiseta, collant ou macacão, deve deixar de ser uma imposição e permitir que a atleta escolha o que é melhor para si e não precisar seguir normas que visam fortalecer os objetivos comerciais de patrocinadores ou embelezar as imagens dos meios de comunicação. Este é um passo no sentido de acabar com a exposição compulsória do corpo da mulher, fazendo prevalecer a aparência física em detrimento do conforto e da eficiência desportiva.
Tomara que estes questionamentos não sejam em vão e que atitudes já sejam tomadas para Paris 2024. Que venham as medalhas de ouro para o bom senso, o respeito, a igualdade de direitos entre os desportistas. Que venham os recordes, que agradarão os Deuses do Olimpo e que enaltecerão a máxima dos Jogos Olímpicos: o mais rápido possível as diferenças serão diminuídas, no lugar mais alto possível será colocado o direito de cada um, da maneira mais forte possível será defendido o respeito à diversidade.
Odila, parabéns pela matéria!
Já percebia, com desconforto, este aspecto nas competições esportivas.
Para que haja igualdade real de condições para ambos os sexos, é preciso consultar as mulheres sobre qual vestimenta elas querem usar na sua prática esportiva. O corpo atlético é bonito em ambos os sexos e podem ser expostos apenas se os esportistas assim necessitarem ou desejarem.
Nossa, eu nunca havia pensado nisso, sempre achei normal, a mulher é linda, tem corpo com curvas tão lindas, sempre achei normal, trajes femininos e trajes masculinos, como no dia a dia…. Mas devo rever meus conceitos depois disso… Parabéns pela matéria… Bjos