Ainda bem que este é o último texto sobre os “pecados” de Roberto Carlos. Ao mexer no vespeiro, nunca recebi tantas ameaças, ofensas, cancelamentos nas redes, moção de repúdio da Câmara Municipal de Cachoeiro do Itapemirim, carta da Embaixada do Chile, um comentário de Julio Iglesias no Instagram defendendo seu amigo e até o gerente da minha conta no banco cancelou o financiamento, já acertado, do meu grande sonho: uma quitinete na Praia Grande (na verdade, é na Cidade Ocian, mas dizer que é na Praia Grande fica mais chique). Senti-me uma Karol com K pós BBB. No caso, um Humberto com H. Mas, eu prometi três textos e tenho que entregar. Então, vamos lá.

Roberto foi um dos maiores incentivadores do movimento de alguns artistas contra a publicação de biografias não autorizadas. Até que o STF, em 2015, derrubasse, em definitivo, essa forma de censura prévia, o Rei moveu incessante perseguição ao jornalista e historiador Paulo César de Araújo, que havia publicado em 2007 o livro “ Roberto Carlos em detalhes”. Por ocasião do lançamento do livro, Roberto entrou na Justiça pedindo a prisão do autor, uma indenização de três milhões de reais, a retirada do livro de circulação e o confisco dos dez mil exemplares que a Editora Planeta tinha no estoque. Conseguiu, através de acordo judicial,  “apenas” as duas últimas solicitações, causando grandes prejuízos ao autor e à editora. 

Mesmo após a decisão de 2015 do STF, o Rei, representado por um dos mais caros advogados do Brasil, Antonio Carlos de Almeida Castro, o famoso Kakay, tentou impedir a volta do livro ao mercado, alegando que o acordo judicial de 2007 deveria prevalecer sobre a recente decisão. Felizmente, perdeu de novo. O livro não apenas voltou às livrarias, agora por nova editora, como seu autor lançou um segundo livro, “O Réu e o Rei”, no qual Paulo Sergio conta pormenores do processo e de seu áspero relacionamento com o Rei nas raras vezes em que se encontraram nos tribunais. 

Tive a oportunidade de ler, anos atrás, o livro censurado.  Muito bem documentado, altamente elogioso à pessoa e à obra do Rei e rico em detalhes de sua vida pessoal e profissional, desde a infância em Cachoeiro com a descrição discreta, porém completa, do terrível acidente na manhã de domingo de 29 de junho de 1947, quando Roberto tinha seis anos. A tragédia marcou, como seria natural para qualquer pessoa, a vida do artista e do homem. Entretanto, as marcas só não foram maiores pelo rápido socorro de um bancário, que o levou à Santa Casa de Misericórdia da cidade e pelo zelo e perícia dos médicos que o atenderam. Naquela época, em situações como aquela, era comum a amputação de toda a extensão da perna esmagada. Felizmente, os Doutores Romildo e Dalton, médico e cirurgião, optaram por uma técnica ainda recente, que possibilitou a amputação pouco acima da canela, preservando assim os movimentos do joelho, que garantem a Roberto, com a prótese, um caminhar muito próximo ao normal. 

A favor do Rei, diga-se, que ele nunca escondeu sua situação, tendo feito, ainda que em raríssimas ocasiões, referências ao fato em entrevistas mais aprofundadas.  E, ainda, imortalizou em duas canções os momentos de dor e de angústia de seu coração de criança: “Relembro bem a festa, o apito e na multidão um grito; o sangue no linho branco……” (O Divã – 1971) e “delírio da febre que ardia no meu pequeno corpo que sofria, sem nada entender” (Traumas – 1972). 

Para finalizar, reafirmo minha admiração incondicional e eterna ao artista Roberto Carlos, sem, contudo, criticar ou condenar o homem. Afinal ele mesmo se definiu e definiu a nós todos : “Sei tudo que o amor é capaz de me dar. Eu sei já sofri. mas não deixo de amar. Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi. São tantas (emoções) já vividas, são momentos que eu não esqueci……”.

 

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