“Viver é rasgar-se e remendar-se”
(Guimarães Rosa)
Quando acompanhamos os Jogos Olímpicos podemos conhecer, e aprender com eles, histórias lindas e empolgantes de superação, onde atletas, pelo seu esforço e sonhos, vencem barreiras de todos os tipos: sociais, econômicas, culturais e preconceitos.
Mas aí chega a Paralimpíadas. Atletas portadores de vários tipos e graus de deficiência. Nadam com apenas um braço, correm com prótese na perna, jogam em cadeiras de roda, acompanham o movimento de uma bola pelo som que ela faz – já que não enxergam.
Tente você. Coloque uma venda nos olhos e ande pela casa – quantos tropeços e insegurança, não é? Prenda seu braço junto ao corpo e corra – perdeu o equilíbrio? Sente em uma cadeira e comece a brincar de receber e jogar bola, ela vai cair no chão e você não pode se levantar para pegá-la. Como você se saiu?
Entender limitações físicas, mentais ou sensoriais não é fácil. Elas podem ser inatas ou aparecerem ao longo da vida, não importa, na maioria das vezes são entendidas como uma tragédia. O fato é que elas podem acontecer e podem se transformar num drama, num desalento, no fim de uma vida dita ‘normal’. Como enfrentar tal situação? Entregar-se e perder o sentido da vida ou buscar novas possibilidades? O que fazer com a dor que uma deficiência traz? Esse sofrimento, e o medo gerado, é sempre paradoxal, pode paralisar ou pode mover. Se paralisar a vida perde o sentido, as emoções ficam desencontradas. Se mover, aí sim a mágica pode acontecer, a vida ganha vida e supera a tragédia, trazendo conquistas.
A Paralimpíadas nos dá algumas respostas. Um esporte pode ser – e é – um caminho importante e fundamental para os atletas que dela participam. A partir da condição individual de cada um, vemos a transformação de uma adversidade em possibilidade objetiva de vida. Esses atletas não se impõem limites mentais, se reinventam e se reconstroem, enfrentam as mesmas lutas dos atletas ditos ‘normais’ buscando vencer seus limites, mostrando que é possível dar novos objetivos à vida. Não é pra menos que o lema da Paralimpíadas é ‘Agitus’ que significa ‘espírito em movimento’. Ou seja, não paralise, não se feche, não pare, mas sim, reinvente-se, encontre um novo sentido nas novas realidades que se apresentam.
Os sofrimentos, as dores, as adversidades nos atingem, muitas vezes de forma brutal. Ficamos frágeis diante das novas circunstâncias que a vida impõe. Mesmo que com as dificuldades nos vemos compelidos a entender e encontrar novas oportunidades, saber encontrar sentido na nova realidade, transformar a fragilidade em força, entender que recomeçar e reconstruir é evoluir, a vida continua e seu ciclo acontece.
Vendo tantos atletas vibrarem com suas conquistas – sejam elas medalhas ou a própria participação no evento – aprendi o quanto é saudável dar destino aos sofrimentos, que cada um de nós pode se revisitar, se reinventar, que o mais importante não é a condição que a vida nos impõe, mas sim o que fazemos com ela, que o caminho pode não ser fácil mas que é possível transformar os remendos em novas estampas da vida.
Parabéns a todos os atletas paralímpicos que nos ensinam que os rasgos podem ser cerzidos formando um desenho ainda mais bonito.
Obs. Agradecimento a Ana Maria Pieralisi que me mostrou o rumo.
Odilia, parabéns pela abordagem que realizou neste importante tema!!
Quem já trabalhou com pessoas com deficiência sabe bem o peso que tem este dilema: “paralisar ou mover”.
Acompanhando estas pessoas corajosas, surpeendi-me diversas vezes com sua capacidade em superar limites. Não são deficientes. São muito eficientes!! Muitas vezes, até bem mais que a maioria dita “normal” que teve a graça da integridade em suas funções motoras, sensoriais e mentais. São exemplos a todos nós!!!