A elegância de Paulinho

Voltando a falar de datas significativas, chegamos hoje ao décimo segundo dia do mês de Novembro do Ano da Graça do Nosso Senhor de 2020. Ainda que em meio a preocupações, dificuldades, destemperos e, por vezes, desalento, é hora de pensarmos no futuro.  O futuro imediato, o final de ano, que devemos celebrar, sim.  Devemos e merecemos. Assim como o futuro mais adiante e de todos, ou seja, o do nosso país. Afinal, é aqui que está tudo que amamos, que construímos, que vivemos e que queremos preservar. 

Independentemente de nossa ideologia, preferência partidária, cor, raça, gênero ou credo, vamos celebrar nossas muitas ilhas de excelência,  levantar nosso astral, prepararmo-nos para as batalhas que enfrentaremos e para as boas novas que, creiam, virão, ou melhor, continuarão a vir, porque nem tudo parou nesses tempos sombrios.  O samba continua sendo uma de nossas melhores tradições, fonte permanente de cultura e alegria. Então, celebremos o samba, lembrando dois ilustres aniversariantes do dia.

João e Paulinho

Paulinho da Viola, 78 anos de pura arte e elegância e João Nogueira, que faria 79 se ainda estivesse entre nós. João deixou obras primas, como “Espelho”. “Minha Missão”. “Súplica”. “O poder da criação”, “Mineira”, “Eu, hein Rosa” e tantas outras, muitas delas em parceria com o notável Paulo César Pinheiro. Hoje, aqueles menos ligados ao samba, identificam-no, muito mais como o pai de Diogo Nogueira, um cantor melhor que o pai, mas sem o brilho de compositor que o velho Nogueira alcançou. 

João e Diogo

Paulinho, por sua vez, ocupa lugar único na MPB. Uma rara conjunção de música e temperamento. Tal qual suas músicas e letras, Paulinho é cordial, elegante, tem a simplicidade dos gênios e a coerência dos que conhecem todos os caminhos. Ouvir seu primeiro disco ─ Paulinho da Viola. 1968 ─ e encontrar “Coisas do mundo, minha nêga” tem o mesmo impacto de ser apresentado ao disco “Meu tempo é hoje” de 2003, o último lançado. Entre um e outro tivemos centenas de canções maravilhosas (sambas, choros e valsas) que só encontram paralelo nos grandes criadores da MPB: Noel, Pixinguinha, Ary Barroso, Cartola e pouquíssimos outros.

Avesso aos holofotes e às polêmicas políticas e culturais, Paulinho, que já foi filiado ao PCB (Partido Comunista Brasileiro), permanece atemporal e moderno ao mesmo tempo. Carioca, vascaíno, e portelense histórico, embora seja autor de um dos maiores sambas de todos os tempos exaltando a Mangueira. Sem sua autorização, o parceiro Hermínio Belo de Carvalho inscreveu “Sei lá Mangueira” no IV Festival de MPB da Record.  A música não ficou entre as cinco finalistas, ─ Tom Zé ganhou com “São Paulo, meu amor” ─, mas criou um sério problema com a Portela. O compositor, já da Ala de Compositores, e cujo samba “Memórias de um sargento de milícias” tinha levado a escola ao título de 1966, ficou numa saia justa, mas redimiu-se em grande estilo.

Portela na avenida

Dois anos mais tarde compôs “Foi um rio que passou em minha vida”. Coisa de gênio. A Portela canta todo ano, até os dias de hoje, antes de entrar na avenida. Coisa de gênio, coisa de Paulinho. Se a moderna MPB tem uma Santíssima Trindade, em minha modesta opinião, ela é assim composta: o Pai Chico, o Filho Caetano, e o Espírito Santo Paulinho da Viola.

Parabéns, Mestres.

Comentários

0 0 votos
Article Rating
Se inscrever
Notificar para
guest
0 Comentários
Feedbacks em linha
Ver todos os comentários
0
Adoraria seus pensamentos, por favor, comente.x
()
x

Assine nossa Newsletter!

[newsletter]