Minas – Igrejas e Montanhas

Estamos acostumados a comemorar aniversário de cidades. Cada uma na sua data, com seu feriado e suas comemorações. Mas não me lembro de ter comemorado o aniversário de um estado. São Paulo, por exemplo, quando foi fundado? Difícil que alguém saiba, em especial, porque os livros didáticos de História passam muito rápido pelo Período Colonial. No meu primeiro livro de História íamos de 1500 a 1808 em apenas vinte páginas e sete lições: o Descobrimento, os Índios, as Capitanias Hereditárias, O Governo geral, os Bandeirantes, as Invasões Holandesa e Francesa e a Inconfidência Mineira.

É certo, porém, que as províncias ─ antiga denominação dos estados ─ evoluíram a partir das capitanias hereditárias. A divisão, em capitanias hereditárias, do território “achado” foi feito na parte superior das pernas (coxas) do Rei Dom João III. Só isso pode explicar a bagunça que foi a divisão. Primeiro, o Rei riscou o mapa em linhas horizontais criando quinze áreas dos mais diversos tamanhos. Depois, chamou alguns amigos próximos, os Sarneys, os Magalhães, os Barbalhos, os Guinle, os Scarpa, os Lima e Silva, os Silva Prado, os Cavalcantes e os Almeida Neves entre outros, que haviam enriquecido saqueando as Índias e a África, e deu-lhes a posse dessas terras, as quais alguns deles mantém até hoje.

Os profetas do Aleijadinho

Aqui no Sudeste havia três grandes e prósperas capitanias: São Vicente (dois quinhões), Santo Amaro e São Tomé.  De São Vicente, uns padres, aproveitando que ainda não havia praças de pedágio, subiram a serra e ali perto da Praça da Sé fundaram um colégio, uma igreja, um boteco e um campinho de futebol. Logo virou uma cidade. Da mistura, para não dizer coisa mais lúdica e gostosa, dos padres, dos degredados, dos índios e, fundamentalmente, das índias surgiu um novo tipo bem adaptado àquele lugar garoento e frio: os bandeirantes. Meio português, meio índio. 

Com o frio que fazia por aqui e como as mulheres daquele tempo não eram muito de reclamar ─ na verdade, não se atreviam ─, os bandeirantes juntavam a galera e saiam pelo mato a pescar e caçar bichos e gente, no caso, índios e índias para ajudar na lavoura e aumentar a população. Numa dessas andanças acharam ouro ali numa barranca entre Vila Rica de Ouro Preto e a Vila Real de Sabará.  A partir daí, tudo mudou e todo mundo queria ir prá lá. O Rei teve que intervir, proibiu a emigração de algumas capitanias e deu o monopólio das minas aos paulistas. 

Naquela época, creiam, não existia Minas Gerais, mas já existia mineiros. Em sítios arqueológicos, datados do Período Mesolítico, recém descobertos na região, foram encontrados restos de queijo canastra, uma lata com toucinho, outra de banha, uma massa de farinha e queijo com a qual, provavelmente, eles faziam o seu pão e uns pergaminhos cortados em pedaços retangulares, como cartas, com algarismos nas quatro extremidades e figuras geométricas no meio. Estranhamente, não havia cartas com os números oito, nove e dez.

A  bandeira de Minas

Bons de política, matreiros como só eles sabem ser, juntaram-se aos baianos e aos portugueses e fizeram a Guerra dos Emboabas contra os paulistas.  Até hoje dizem que ganharam a guerra  ─ os livros didáticos confirmam e, realmente, os paulistas foram expulsos das minas  ─, mas o certo é que os paulistas se livraram do Rio de Janeiro e do próprio território mineiro, que à época lhes pertenciam. Vitória maior não poderia haver para os paulistas. Nunca corremos o risco de ter que votar em Garotinho, Cabral, Crivella e Pezão. Também pudemos desenvolver nossa linguagem e criar palavras para nomear os objetos. Os mineiros só conhecem uma. 

A comida mineira

Por fim, em 02 de Dezembro de 1720, o Conde de Sabugosa, Vasco Fernandes César de Menezes, então Vice Rei do Brasil, cansado de receber abaixo-assinados, porções de fígado com jiló, queijos meia cura, cachaças e linguiças, resolveu atender o pleito dos mineiros e criou a Capitania de Minas Gerais.  Em 1821 passou a ser província e em 1889, com a República, tornou-se o Estado de Minas Gerais.  Lá se vão exatos trezentos anos de História.

Escritores Mineiros

Ou histórias: de Aleijadinho, Chica da Silva, Tomás Antonio Gonzaga, Marília de Dirceu, Tiradentes, Santos Dumont, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Carolina de Jesus, Fernando Sabino, Tostão, Murilo Rubião, Juscelino Kubitschek, Roberto Drummond, Tancredo Neves, Ricardo Parreiras, Lima Duarte, Ziraldo, Darcy Ribeiro, Adélia Prado, Dirceu Lopes, Hilda Furacão, Fernando Brant, Milton Campos, Henfil, Paulo Mendes Campos, Zacarias, Otto Lara Rezende, Mestre Ataíde e Dona Beja. Tudo gente boa demais da conta, sô.  

Em tempo, apenas para os estrangeiros: Milton e Itamar, embora mineiros, não nasceram em Minas Gerais. Acontece.

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