Quando aqueles garotos foram apresentados um ao outro, em Julho de 1957, o mais velho,  John já tinha uma banda, The Quarrymen. O rock ainda era uma coisa recente na Inglaterra, uma diversão inocente para os garotos de uma Liverpool soturna, ainda marcada pela dureza dos tempos da Segunda Guerra. Meninos da classe média baixa, John e Paul tinham em comum, além do gosto pelo rock, o fato de terem perdido suas mães no inicio da adolescência, em circunstâncias trágicas.  Mrs.Julia Lennon atropelada por um caminhão, Lady Mary McCartney de complicações de uma cirurgia de retirada da mama atingida por um câncer.

Sempre atento a incrementar a qualidade e o repertório de sua banda, John gostou do que viu e ouviu daquele moleque canhoto, que tocava muito bem o violão e já compunha. De cara, convidou Paul, que logo em seguida trouxe seu amigo George, mais jovem ainda que ele. Completavam The Quarrymen, um pianista e um baterista. O baterista logo saiu da banda, sina que acompanhará, por muitos anos The Quarrymen e a “bandinha” que a sucedeu. Começa nessa fase o surgimento das diferenças de temperamento e opinião entre John e Paul, embora não se questionasse a posição do mais velho como dono e fundador da banda.

Para compensar a chegada do amigo de Paul, John trouxe, também, um seu amigo: Stuart Sutcliffe, um baixista escocês mais para esforçado que talentoso. Acertada uma temporada em Hamburgo,  no norte da Alemanha, precisava ser resolvido o problema da bateria. Por ela, já haviam passados vários músicos obscuros e, na falta deles, Paul costumava quebrar o galho nas baquetas. Para Hamburgo, a coisa precisava ser mais profissional. Entra em cena Pete Best, baterista e filho da dona do The Casbash Coffee Club, um dos locais de Liverpool em que, vez ou outra, se apresentavam The Quarrymen. 

O nome, também,  precisava mudar. O grupo não tinha mais nenhuma relação com o antigo colégio de John: The Quarry Bank High School. Primeiro pensaram Beetles, daí acrescentaram Silver e se tornaram The Silver Beetles. Para relacioná-los com “beat”, termo da moda, mudaram para Silver Beatles e , na véspera da viagem, enfim THE BEATLES. A primeira formação ficou assim Lennon, McCartney e Harrison nas guitarras, Sutcliffe no baixo e Best na bateria. Estávamos em Agosto de 1960. Em Hamburgo, apresentariam-se e morariam no Indra Club, uma boate de péssima reputação com condições técnicas e sanitárias piores ainda. 

A temporada de quase três meses pouco acrescentaria à História se não tivessem ocorrido dois fatos. Stutcliffe caiu de amores por uma beldade alemã e, a contragosto, ficou na banda até o final da turnê. Depois foi embora, para alegria de Paul e desgosto de John. Em uma noite, Pete tomou um porre e não apareceu. Sorte dos meninos, que outra banda inglesa estava se apresentando no mesmo bairro e lhes emprestou o baterista. Era a noite de 15 de Outubro de 1960 e Richard Starkey Jr. era o cara. Ficou nisso e John ainda comentou: “ Como é que vocês conseguiram arrumar um baterista pior que o Pete?

Entre Agosto de 1960 e Maio de 1962, foram três temporadas em Hamburgo e mais de 200 apresentações no The Cavern Club em Liverpool, onde um dia apareceu o homem que criou a lenda. Brian Epstein assistiu o show, não viu nada de extraordinário,  mas sentiu que poderia render-lhe algum dinheiro ser empresário de mais uma banda de rock. Assinou contrato com a banda e começou a correr pelas gravadoras. Recebeu muitos não e um talvez. Este talvez salvou a história da música no Planeta Terra. O diretor de uma gravadora pediu que  Brian aguardasse o fim das férias de um de seus produtores e arranjadores, George Martin. Deu muito certo. Alguém discorda? 

Martin e Epstein achavam Pete Best um desastre, mas foi com ele na formação,  que os Beatles  iniciaram as gravações de seu primeiro single no Abbey Road Studios. No meio do trabalho demitiram Pete e em 11 de Setembro de 1962 fizeram a  gravação definitiva de “ Love me Do”, já com Richard Starkey Jr.presente. Presente, mas tocando um reles pandeiro. Martin preferiu um baterista free lancer, Andy White, de muito mais técnica e rodagem.  No segundo single, o que tinha “ Please, please me”,  gravado na mesma semana, Richard ou Ringo Starr,  já era o titular da “batera”.  

Os dois discos chegaram às lojas em 05 de Outubro de 1962. O resto é História. 

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