Ninguém assiste ao BBB. Todo mundo adora dizer que detesta o BBB. Eu inclusive. Mas, por razões misteriosas, a maioria de nós, eu inclusive, acaba conhecendo um ou outro participante, quem são os vilões, quem são os mocinhos e, principalmente, as mocinhas que estarão na Revista Sexy dos meses seguintes. Nós, a “elite intelectual” de Pindorama, ficamos, sinceramente, estarrecidos quando somos informados que determinada eliminação gerou quase um bilhão de ligações telefônicas. Como é possível gastar dedo, tempo e dinheiro para tamanha futilidade? Se os que ligam já são considerados, por nós, tontos e alienados, o que dizer então dos que pagam R$ 22,90 (eu fui pesquisar, hein) pelo “pay per view” para poder assistir durante as 24 horas do dia tamanha insanidade?

Para um blog que proclama a liberdade de expressão, o respeito às diferenças e o culto à diversidade, não poderia haver parágrafo mais preconceituoso e pedante que o anterior, mas era uma desculpa antecipada da verdadeira intenção: justificar-se por dedicar um artigo a um assunto de “segunda classe”. Só que não. Há muito o BBB deixou de ser um assunto de segunda classe. Pode-se gostar ou não, amar ou odiar, discutir ou ignorar, mas é preciso reconhecer que essa ideia importada da Holanda pegou. Como nunca pretendeu ser um produto cultural, mas, sobretudo, comercial, o sucesso é absoluto junto ao público e ao mercado publicitário. 

Mas, o programa foi além e, como não poderia deixar de ser, criou moda e ditam comportamentos. Gerou TCC’s ( Trabalhos de Conclusão de Cursos), teses de mestrado e doutorado. Afinal, cada edição é uma experiência social e científica, monitorada por milhões de testemunhas, com nuances de sociologia, antropologia, psicologia, sexologia, psiquiatria e escatologia entre outras matérias mais e menos importantes.  É um lugar comum dizer que aquela casa é um microcosmo de nossa sociedade. Aliás, toda casa, ou família, é um microcosmo. A diferença é que no BBB as pessoas acabaram de se conhecer, enquanto nas nossas, às vezes, nunca chegaremos a conhecer.

A mais conhecida, discutida e discutível “contribuição social” do BBB é a cultura das subcelebridades. Começou lá na primeira edição e permanece firme até os dias de hoje. O caipira bronco, o pitboy maluco, a patricinha carreirista, a funkeira barraqueira,  o intelectual de boteco, a atriz/modelo mística, o marombado de apartamento e outros, no dia seguinte a estréia do programa, já são conhecidos no Brasil inteiro. E irão aproveitar essa popularidade até a última gota. O BBB criou a subcelebridade, mas não é o único lugar onde essa espécie nasce e procria. As redes sociais e seus nichos criam mais de uma por dia. Alguns são cometas, outros duram pouco mais que uma mudança de lua e, poucos, sobrevivem para a próxima estação.

O obituário do JN não tem o prestígio da mesma seção do New York Times, mas para os padrões de Pindorama, aparecer nele é um claro sinal de fama, ainda que ninguém queira isso para já. Pois bem, volta e meia aparece lá um cantor ou cantora de quem pouca gente ouviu falar e menos ainda se lembra de uma música sua.  São as subcelebridades de nichos. Há para todos os gostos, mas quem reina mesmo são os (as) influencers digitais. Nenhuma festa pode prescindir de suas presenças sem o risco de micar e o anfitrião ser “cancelado”. Ninguém mais é unanimidade, feliz ou infelizmente.

Voltando ao BBB, lá se vão 21 anos de sucesso, críticas, polêmicas, abobrinhas do Bial para seus guerreiros (…argh) e muito merchandising. Mas, se tudo isso serviu para nos trazer Grazi Massafera, eu me rendo. Viva o BBB. E vamos deixar de perseguir a bela e talentosa Karol com K.

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