O que seríamos sem o cérebro?

Com certeza, NADA.

Esse órgão, que se parece com a metade de uma noz, é o mestre, o comandante, o todo poderoso, o que dá voz e vez a todas as outras estruturas do corpo humano. E esse domínio vai desde o nascimento até a nossa morte, tanto que, para que sejamos considerados mortos, tem que ser atestada a morte cerebral.

Claro está, e todos nós sabemos, que os cuidados que temos com nossa saúde vão se refletir diretamente na saúde do cérebro. Ter bons hábitos alimentares, manter o corpo ativo, estar inserido numa vida familiar e social saudáveis, são alguns dos itens básicos a serem cultivados.

Mesmo com todos esses cuidados postos em prática, o cérebro, assim como todo o corpo, envelhece. Ele perde células, a transmissão de estímulos vai se lentificando e as funções que ele exerce vão sendo, gradativamente, atingidas, alterando a qualidade e a velocidade no processamento das informações. No decorrer dos anos, as mudanças na audição, visão e capacidade motora, também contribuem para alterar o desempenho geral.

Parece que nada há a fazer, envelhecer é condição sine qua non da vida e temos que aprender a lidar em nosso favor com todo esse processo. Felizmente temos a ciência que busca, pesquisa e encontra formas de orientar as boas práticas.

Acreditou-se por muito tempo que as células cerebrais – os neurônios – não poderiam ser recuperadas após sua morte, e que as funções perdidas não poderiam ser reabilitadas. Mas, ao longo do tempo, estudos foram mostrando que há formas de, digamos, compensar ou driblar a perda de neurônios ou suas conexões.

Sabe aquele dia que você sai para uma atividade e não consegue completá-la ou por que há um bloqueio no caminho, ou por que não encontrou o que queria, ou o comércio estava fechado? Você desistiria ou tentaria uma nova rota, uma substituição da atividade, uma nova maneira de produzir?

Então, é isto o que o cérebro faz, vai em busca de alternativas para atingir os objetivos, alcançar uma melhor solução e adaptar-se. A isto foi dado o nome de Plasticidade Neural ou Neuroplasticidade.

Para que o cérebro possa desbravar novos caminhos, formar novas conexões e se mantenha em pleno funcionamento, requer de nós manutenção constante e exercícios diários.

Além do cuidado com a saúde, das atividades físicas, da boa alimentação – e vamos falar mais sobre isso daqui pra frente – existem muitas outras atividades que dão muito vigor ao nosso cérebro.

Leia muito. Faça palavras cruzadas, sudoku. Aprenda – e jogue – os jogos de tabuleiro. Faça cursos – aprenda novas ações. Pratique as novas tecnologias. Enfim, estimule, diversifique, use todos os seus sentidos OUÇA – FALE – OLHE e VEJA – TOQUE – PROVE – SINTA. Busque sempre novos caminhos. Novos desafios.

NEUROPLASTICIDADE – ENTREVISTA COM A NEUROPSICÓLOGA VERA LUCIA PAPAIS

Vera Lucia Papais é psicóloga, neuropsicóloga e orientadora de carreira. Formada em Psicologia pela Universidade de Mogi das Cruzes, Especialista em Neuropsicologia com formação em Reabilitação Cognitiva, pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, especialização em orientação de carreira pela FIA-USP e mestre pela PUC-SP.

1- Que atividades são mais efetivas para estimular a melhora das conexões neurais?

No cérebro humano, diversas áreas cerebrais funcionam articuladamente como se fossem uma orquestra, e mesmo que os instrumentos não sejam tocados ao mesmo tempo, é importante que toquem de maneira articulada, no qual cada instrumento tem sua melodia. E isso nos faz pensar que as funções cerebrais também não atuam de maneira isolada, cada parte tem seu encargo e funcionam conectadas entre si. Por exemplo, quando você aprende uma nova língua, você exercita várias funções simultaneamente tais como atenção, memória, linguagem, função executiva, motora, inclusive emocional. Nesse sentido existem diversas atividades que contribuem para isso, tais como adquirir novos conhecimentos, hobbys, viajar, dançar, trabalhar em atividades que tenha significado, meditar, brincar, jogar (principalmente em grupos), estabelecer relações sociais positivas, praticar esportes, enfim… adquirir novas aprendizagens, deixar de fazer coisas de maneira tão automatizadas.

2- É possível perceber, concretamente, mudanças na vida, ao estimular o cérebro?

Com certeza. Hoje existem estudos em neurociência comprovando mudanças no cérebro após a realização de diversas atividades de estimulação cognitiva. Por exemplo, alguns cientistas estão demonstrando através de imagens (Eletroencefalograma) do cérebro o impacto da meditação, antes e após.

3- Em que áreas há maior ou melhor resposta à plasticidade neural? – Física, emocional e cognitiva?

As três áreas são importantes, desde que resultem em novas aprendizagens e prazer para que o cérebro crie novos caminhos em seus circuitos neurais. Por exemplo, se você pratica atividade física e cuida de seu bem estar mental (psicoterapia, atividades que dão prazer, meditação etc) você terá uma melhor qualidade do sono e isso gera um efeito na consolidação da memória (cognitvo) através da plasticidade do hipocampo (região cerebral da memória), então se você naquele dia aprendeu coisas novas, com certeza estas memórias ficarão consolidadas no cérebro.

4- Provocar o cérebro, dessa maneira, pode inibir o surgimento de outras patologias decorrentes do envelhecimento? (Alzheimer, doenças psiquiátricas, demências, perda de memória, depressão…e outras)

Os neurocientistas afirmam que o cérebro possui uma “reserva cognitiva”, que é a capacidade do cérebro armazenar habilidades adquiridas ao longo da vida e isso contribui para postergar quadros patológicos oriundos do envelhecimento. Ainda não sabemos as razões pelas quais os quadros demenciais surgem, mas sabemos que podem ser postergados. Então, quanto mais as pessoas estimulam continuamente o cérebro maior reserva será preservada. Mas a saúde mental é muito importante para dar conta do envelhecimento. Faz-se também necessário compreender as mudanças psíquicas que ocorrem nesse período, para que se possa ter uma vida serena e harmoniosa.

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