Respeito é bom e, nós mulheres, gostamos muito. Tem que ser exigido. Não dá mais pra aceitar, em pleno século XXI que a mulher tenha que ser submetida a pensamentos e condutas machistas.

Historicamente a posição da mulher sempre foi de submissão, de acatar ordens, de satisfazer desejos e condições sociais. Procriar para manter o mundo funcionando. E procriar homens para continuar a ser submetida. Sem vontades, sem prazeres, sem desejos…só o do outro. Primeiro o pai, depois o marido – sem os quais seu valor se perdia. 

Claro que milhares de mulheres fizeram e mudaram o rumo da história e do valor da presença feminina em todos os setores – arte, ciência, esporte, política – dando visibilidade ao ‘sexo frágil’. Entretanto, milhões de mulheres padeceram – e ainda padecem – pelo único motivo de serem mulheres, submetidas e mantidas na condição de seres inferiores, beneficiando sempre o mundo masculino. Ainda hoje encontramos exemplos aterradores.

Há pouco tempo deixou de existir na China a tradição do Pés de Lotus. A cultura de amarrar os pés das mulheres para modificar seu formato, tornando-os menores, garantia à mulher um status mais elevado na sociedade e, consequentemente, um casamento melhor. A prática de amarrar os pés gerava deformidades, fraturas e muita dor, além de tornar a locomoção difícil e insegura. Por outro lado, por ter sido transformado em padrão de beleza e prestígio social, simbolizava dedicação ao desejo sexual masculino. Esta prática foi proibida no começo do século passado mas persistiu até os anos 1950 e, ainda podem ser encontradas senhoras chinesas com os Pés de Lotus.

Já em países da África, Ásia e Oriente Médio, existem os rituais de remover parte ou todos os órgãos sexuais externos femininos, com ou sem anestesia, e sempre contra a vontade, feitos desde a infância até a puberdade. A justificativa – nada justificável – é de controlar a sexualidade da mulher, baseada em superstições e mitos criados para este fim, alegando a aceitação social e religiosa, além, claro, do prazer sexual masculino. As consequências deste ato são muito graves levando a infecções recorrentes, só partos cesarianos, alterações na bexiga e ciclo menstrual, além da perda do prazer sexual. Há muito tempo vem se tentando tornar esta prática ilegal mas há grande dificuldade em se fazer cumprir a lei.

Na mesma África – em muitas de suas tribos – o padrão de beleza determinado para as mulheres foi o de ter um pescoço muito longo – o pescoço africano, as mulheres girafa. Para que o pescoço fique muito alto, a partir dos cinco anos de idade, vão sendo colocadas pesadas argolas de metal, chegando a umas vinte e cinco na idade adulta, sendo que a quantidade colocada pode ser um símbolo de riqueza e status social. A colocação dessas argolas geram deformação de ossos e fraqueza muscular do pescoço. Para as mulheres casadas, as argolas são um limitador de movimentos do pescoço – para que não olhem para os lados – e, devido ao peso, podendo chegar a dez quilos, têm dificuldades para fugir. Hoje, as mulheres girafa são alvo de atração turística na Tailândia.

Esses exemplos lembram, e são, aberrações. Entender outras culturas é essencial mas não é aceitável compactuar com tais agressões. No entanto, temos situações similares mas praticadas de forma a aparecerem menos agressivas. Só há poucos anos entrou em vigor a Lei Maria da Penha, que estabelece as violências domésticas contra as mulheres como crimes. Nestes últimos dias discute-se a eliminação da tese do “legítima defesa da honra”, usada para a absolvição de homens em crimes passionais. 

O machismo é estrutural e sistêmico. O caminho é longo para que a mulher seja respeitada. O que dizer do deputado Fernando Cury, que em meio a uma sessão da ALESP, vigiado por câmeras e várias pessoas ao redor, ter um gesto de importunação sexual para com a deputada Isa Penna. Certamente, contava com a aprovação de seus colegas de plenário, o gesto tipicamente de poder machista. Pior ainda seus pares da Comissão de Ética, que num outro gesto de importunação, este moral, alivia e abranda a punição, demonstrando total corporativismo chauvinista, alegando que o perdão vem em nome de Deus e da família. Será que Deus concordaria?

A dura luta pelo respeito continua e deve se manter firme e forte para não perenizar comportamentos não compatíveis com a moral e a ética do ser humano.

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