Durante muito tempo nós aprendemos na escola que a Idade Média era, também, conhecida como a Idade das Trevas.  Ensinavam-nos que naquele tempo histórico teria ocorrido uma paralisação, até mesmo um retrocesso, na evolução científica e artística da Humanidade. Para relembrar: por convenção, os historiadores delimitam esse período entre os séculos V e XV da era cristã, com seu início em 476 D.C. com a queda da cidade de Roma e o fim do Império Romano do Ocidente. Da mesma forma, a tomada de Constantinopla, pelo Império Otomano em 1453, marca o fim do Império Romano do Oriente e, por consequência, o fim da Idade Média. 

Hoje essa visão não mais prevalece em razão dos diversos equívocos que ela carrega. Principalmente, porque ela reafirma uma visão eurocêntrica do mundo, que não mais se sustenta. O fenômeno marcante da Idade Média, ou seja, a prevalência do Cristianismo, mais especificamente da Igreja Católica, em todos os campos da atividade humana, aconteceu tão somente na Europa. Diversas outras civilizações em várias partes do planeta, com suas distintas religiões, alcançaram, neste período, relevante desenvolvimento tecnológico e artístico.  Nas civilizações chinesa e árabe, o surgimento da pólvora, da bússola, dos algarismos arábicos, do papel e da tipografia, o desenvolvimento da Medicina, da Matemática e da Arquitetura e o intenso comércio entre os continentes pela Rota da Seda são evidências de um mundo em permanente e evolutiva transformação. Mesmo a América, pré invasão europeia, já desenvolvia sua própria Arte e Ciência como provam os legados das civilizações asteca, inca e maia. Apenas no sudeste do continente americano, a Banânia, não acontecia nada de relevante na época, tal como agora, mas isso devia ser por culpa de seus políticos. 

Também é incorreto crer em retrocesso na Arte e Ciência em todo o continente europeu naquele período. Houve, sim a fragmentação em feudos, a ruptura de intercâmbio com a riqueza cultural do mundo grego, a difícil luta pela sobrevivência num tempo sem Estado e sem Lei e, fundamentalmente, a presença unificadora e opressora, por vezes, da Igreja Católica. Entretanto, ainda que limitada por esses fatores, a Arte da Idade Média é riquíssima nos campos da Pintura, Arquitetura, Iluminuras e na Música, entre outros.

O fato da maior parte dos temas serem de caráter religioso não tira a qualidade das obras, até porque eram nas igrejas e monastérios que se preservava a herança cultural clássica greco romana. Monges traduziam obras além da Bíblia, igrejas eram construídas e decoradas e havia transmissão de conhecimento na formação do clero, cada vez mais necessário para expansão do poder temporal e espiritual da Igreja.

A arte medieval, de inicio, é a arte bizantina profundamente religiosa, e sua maior expressão é a Basílica de Santa Sofia, ou Hagia Sofia, que ao longo da História foi catedral cristã, mesquita, museu, e novamente, convertida em mesquita em 2020 pelo atual governo turco. Sua arquitetura e decoração transcendem o aspecto religioso e encantam milhões de turistas que a visitam durante todo o ano.

Com a incipiente e precária reorganização política que Carlos Magno trouxe à Europa, a partir do século IX, surge o estilo românico, caracterizado pelas grandes construções e utilização de novos materiais como o mármore e outros tipos de pedras. Num tempo de peregrinações, as igrejas eram grandes construções, nas quais as abóbadas e arcos substituíram os antigos telhados e pilares romanos, e se destinavam, também, a dar abrigo aos peregrinos. Grandes e ricamente adornadas com mosaicos, iluminuras, afrescos e esculturas, todas em harmonia com as finalidades temporal e espiritual dos templos. Um dos grandes monumentos desse período é a Catedral de Santiago de Compostela.

Uma evolução do estilo românico, o gótico se desenvolveu na Baixa Idade Média (séculos XII a XIV) e transparece nas imensas catedrais de uma época em que as cidades voltaram a florescer. Já não eram locais de estada de peregrinos, mas mantinham a grandiosidade que as marcavam como símbolos do poder político e econômico da Igreja. Representavam, também, a beleza e o esplendor do divino e da religiosidade, através de paredes finas e leves permeadas de vãos e janelas, cujos vitrais difundiam  luminosidade física e mística irradiadas sobre as belíssimas obras de seus interiores. Um dos mais belos exemplos da arte gótica é a Catedral de Canterbury na Inglaterra.

O tempo não para, disse alguns séculos depois da Idade Média, um filósofo do Baixo Leblon. De novo, ele tinha razão.

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