No Brasil, como em qualquer outro lugar do mundo, inflação é assunto do dia a dia. Em 2021, a inflação acumulada, até o mês de agosto, já atinge 5,67% e a expectativa, “otimista”, é que ao final do ano ela chegue próxima aos 10%, mais que o dobro da inflação do ano anterior. Para se ter uma ideia do que este percentual representa, basta saber que, nos últimos 25 anos, apenas duas vezes a inflação atingiu ou ultrapassou esse patamar: em 2002 e 2015. Há muitos motivos para acreditar em hipóteses menos otimistas, entre eles, os sucessivos aumentos dos combustíveis e da energia elétrica. A crise política mantém o dólar nas alturas encarecendo os combustíveis e a crise hídrica pressiona o custo da energia. Não há muito para onde correr.

A sabedoria popular costuma lembrar que esses números representam a inflação oficial, ou seja, a evolução do Índice de Preços ao Consumidor- Amplo (IPCA), medido pelo IBGE e que a inflação real costuma ser, quase sempre, maior do que a anunciada. É uma meia verdade com grande dose de razoabilidade. O que o IBGE faz é calcular, mensalmente, a média da variação de preços de uma cesta de produtos e serviços de diversos setores (alimentação, moradia, saúde e higiene pessoal, transporte, comunicação, vestuário, educação, artigos para casa e despesas pessoais) nas treze principais em regiões metropolitanas do país. A partir de um percentual preestabelecido do peso de cada um desses itens no consumo de uma família, é feito o cálculo, que resulta no índice oficial de inflação. Este índice será a referência de toda a economia para avaliação de investimentos, reajustes salariais, correções de contratos e de outros ativos e preços. 

A realidade, porém, é que cada pessoa, cada empresa, cada família tem sua própria inflação e ela depende, substancialmente, de seus hábitos de consumo. É inconteste que famílias mais pobres gastam um percentual maior de sua renda em alimentação. Portanto, quando os preços dos alimentos ou do gás de cozinha, sobem mais que a média do outros bens e serviços, então, a inflação, ou melhor, o impacto da inflação será maior para essas famílias. Em geral, é isso que vem ocorrendo desde o início de 2020, não apenas pelos efeitos da pandemia, mas também pelas demandas do mercado externo, visto que o Brasil é um dos maiores exportadores de carnes e grãos do mundo.  Quem convencerá uma dona de casa que a inflação anual está em torno de 10%, quando ela percebe que o arroz subiu 25% nos supermercados? E a carne com seus 30%? E a batata? E o feijão?

Por outro lado, quando o que sobe mais são os preços dos serviços (saúde, educação, transporte etc.), é a classe média quem mais sente os efeitos, porque é grande consumidora desses serviços. Já os ricos, sempre ganham. Por isso são ricos, óbvio. Por haver menor demanda de produtos destinados às classes mais privilegiadas, é natural que tais preços subam menos. Isso não significa que os ricos não sintam os efeitos da inflação, mas suas preocupações são de outra ordem. Raramente ouve-se uma queixa quanto ao preço de uma raquete de tênis. Do preço de uma champagne Dom Pérignon, então, jamais ouvi um mínimo muxoxo (quem lembra dessa palavra?). O IPCA importa aos mais favorecidos, basicamente, por seu impacto no ganho real de seus investimentos − aplicações financeiras − e ativos. 

De minha parte, depois de décadas preocupado com os aumentos de preços, concentro a preocupação e a minha inflação, na cerveja e na mandioquinha (batata baroa para nossos milhares de leitores cariocas). Nos demais produtos consigo economizar, seja trocando por marcas mais baratas, diminuindo o consumo ou procurando os locais de menor preço. Mas, cerveja e mandioquinha têm que ser de boa qualidade e procedência. Disso não abro mão. É inadmissível comprar marcas mais baratas de cerveja e, pior ainda, se for em latas ou litrão (Credo!). Comprar mandioquinha na hora da xepa é quase um crime de lesa pátria. Paulo Guedes e seu chefe não merecem esse sacrifício de minha parte.

E você? Qual é sua inflação?

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