Em agosto de 2016, quando Dilma Rousseff foi definitivamente afastada da Presidência da República e o PT defenestrado do poder, pensei com meus botões. Tudo vai mudar e o que fazer com os meus investimentos? O razoável é, como já escrevi aqui várias vezes, não fazer movimentos bruscos e aguardar o cenário desanuviar. Esperei algumas semanas, pouca coisa mudou, mas havia uma questão a considerar. E as minhas ações da JBS? Todos sabíamos que a JBS fora uma das grandes beneficiárias do período 2003-2014. Sua imagem estava fortemente ligada aos governos petistas e ao BNDES, principal financiador de sua expansão no Exterior. Parecia claro que a fonte ia secar e a empresa poderia ter problema em continuar crescendo. Vendi minhas ações da JBS.

Veio o Joesley Day, em maio de 2017, o dia em que foram divulgadas conversas comprometedoras entre Michel Temer e Joesley Batista, o CEO da empresa. A ação despencou. Respirei aliviado. A ação estava em R$ 12 em agosto, chegou a R$ 10 quando eu vendi e despencou para R$ 8 após o Joesley Day. Parecia que eu tinha me livrado de um mico.  Pois bem, a ação que eu vendi por R$ 10 em novembro 2016, fechou na última sexta feira, 3 de setembro de 2021 em R$ 32,10, com um ganho de 221% no período. Só para comparar a inflação no período foi de 23%. Fiz um bom negócio vendendo minhas ações diante da turbulência que parecia vir?

Claro que não. Uso esse exemplo pessoal para reiterar aquele ensinamento básico, que talvez seja útil nesse momento em que vivemos, pela enésima vez, uma crise político-institucional. Não se precipite, nem faça movimentos apressados. Informe-se, acompanhe o noticiário, ouça analistas sérios, mas não se desespere. Se o seu investimento foi bem pensado na aplicação, ele pode até sofrer alguns solavancos, mas a médio e longo prazo, ele vai se recuperar. Especialmente, no caso de ações, o que realmente importa é o desempenho da empresa. Sua lucratividade, sua resiliência em crises, sua governança (gestão) e sua participação no mercado.

Isso não significa que não devam ser feitas, em determinados momentos, mudanças em sua carteira de investimentos. Sim, elas devem ser feitas. Felizes aqueles que venderam, em tempo, suas ações das empresas de Eike Batista. Vejam bem que o caso Eike não é de natureza político-institucional. Era apenas a fantasia de um vendedor de ilusões, que acabou causando enormes prejuízos a pequenos e grandes investidores. De forma inversa, a JBS solidamente fincada no mercado externo, com a maior parte de seus lucros vindo de operações nos EUA e muito bem administrada, sobreviveu até mesmo à prisão de seus controladores e continua fazendo a alegria de seus acionistas. 

Portanto, permanece válida a premissa básica para seus investimentos. Buscar rentabilidade, aliada a segurança e liquidez. Em momentos de instabilidade política, privilegie a segurança, ainda que sacrificando um pouco de rentabilidade e liquidez. Para novos investimentos, vale a mesma regra, mas baseada nas últimas e melhores informações disponíveis. Informações sobre o mercado, sobre a política econômica, sobre o que pensam da economia os candidatos favoritos à Presidência e, sobretudo, seus objetivos para o investimento.

Na dúvida, entre no bar mais próximo, peça um café ou uma cerveja, a seu critério. Converse com o garçom ou com a mocinha do balcão. É a melhor e mais agradável maneira de sentir o tamanho de qualquer crise. Boa semana.

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