Por Odilia D’Angelo
Sim, adoro a Itália.
Sim, desde que nasci. Ouvir o dialeto ‘castelhano’ foi meu primeiro contato, dia e noite ouvindo palavras e frases. Depois, as delícias gastronômicas de um ‘paesetto lontano’ (cidade distante). Um pouquinho, só um pouquinho, de música. Muitas histórias ouvidas de vidas vividas, pra mim um tanto abstratas, de um passado que não era meu. Cheguei a renegar essas origens, talvez por estarem tão distantes. Porém a Itália foi entrando em mim, devagarzinho, se acomodando em meus pensamentos, despertando meu interesse, aguçando meus sentidos, se fazendo próxima para que eu a descobrisse. Os vizinhos e conhecidos, italianos, contribuíram. ‘la pasta’, ‘il sugo’, ‘il calcione’, ‘il pane’, ‘il formaggio’ e tantas outras delícias, sempre presentes no dia-a-dia, formaram o meu paladar e foram treinando meus ouvidos.
Então, nos anos 60/70, o Brasil descobriu a música italiana, e eu a amei. Cantei, entendi um pouco a diferença entre o italiano e o dialeto. Comecei a falar um pouquinho, e a entender um pouquinho mais e me sentia estimulada a conhecer mais hábitos, mais histórias, mais da cultura. Até fiz festas à italiana, bem caracterizadas. As raízes se manifestaram e o interesse aumentou. Cantinas, língua, hábitos, geografia. Quanto a aprender, a ver, a conhecer!
Finalmente, em 86, Itália. Fiquei sem fala diante de uma Roma que é pura história, que se materializou diante de mim, e fez com que todos os relatos estudados na escola se tornassem realidade. Ainda hoje não esqueço de minhas sensações naqueles primeiros dias. E, para meu maior espanto, eu conseguia entender e falar o italiano, mesmo que de maneira simples, misturando dialeto e italiano, me comunicava com os parentes. Foi uma grata surpresa, pra eles também, que alguém longe do convívio se comunicava em italiano. Esse período de primeiros contatos me colocou de frente com a cultura local, da pequena cidade onde nasceram meus pais e minha irmã, de saber onde estão as raízes. E tudo continuou a me encantar.
A Itália é intensa. No agitar constante das mãos ao falar, na voz alta, quase em gritos, na risada fácil. Intensidade do sofrimento por amor, retratado nas canções românticas e, muitas, um tanto trágicas. A alegria de viver, a vida presente nas tarantellas e saltarellas. A irônica brincadeira sem pensar no politicamente correto. E as cores da Itália!!! Verde, vermelho e branco da bandeira, o azul celeste nos uniformes esportivos. Os mais profundos tons de azul vindos do Mediterrâneo, os vermelhos deliciosos dos tomates e dos ‘ papaveri’ e os verdes-amarelos dos limões sicilianos.
Flores e mais flores surgem em todos os cantos quando vem a primavera, cultivadas e esperadas por todos como um prenúncio do verão, a melhor estação do ano. E tem também os perfumes. Quem não se delicia com o aroma de um pão quentinho sentido em cada esquina? E, de repente, aquele cheirinho do molho do macarrão ou da pizza com o queijo derretendo em cima? Aí dá até pra sentir o gosto, dá uma vontade de comer!!!! E o sabor do café e dos ‘gelatos‘ são inigualáveis!!!!
Em especial nas artes, nas ruínas, nos imensos monumentos, castelos, estátuas e jardins. São de uma megalomania sem fim. Ver um Colosseo ou as fontes e jardins de Tivoli ou a estátua de Davi. A grandeza de um Michelangelo ou de um Da Vinci e Dante. Em cada canto uma pedra, um caminho, uma história. Como seria o mundo sem o Império Romano? Sem o Renascimento?
Quantas outras maravilhas estão nesta terra? Uma vida inteira é um pingo de tempo diante da enormidade deste pequeno pedaço de mundo, um grão de areia dentro da bota que leva o nome de Itália.
Eu carrego comigo estas raízes e tenho orgulho delas e sou feliz que tenha sido e seja assim.
Gostei do texto. Deu vontade de conhecer a Itália. Minha avó materna era imigrante italiana. Não sei de que região
Sou suspeita. Vá conhecer a Itália!!!
CASTELHANO??? Não entendi.
O certo é castellano, de Castel del Monte. Corrigi várias vezes mas ele não aceitou
Sem esquecer da “Azurra”, tetracampeã do mundo, mas velho freguês nosso.
As raízes são a base, o que nos nutre e nos forma.