Esse talvez nem seja um pecado do Rei; é mais uma opção. Mais que uma opção, um direito de qualquer cidadão, nobre ou plebeu. De qualquer forma, de figuras públicas, sempre são cobrados posicionamentos sobre as mais diversas questões e suas opiniões, para o bem e para o mal, influenciam milhares, neste caso, milhões de seguidores e admiradores. Nem sempre isso é justo. Deve ser bastante estressante ter que opinar sobre coisas que, por vezes, não lhe interessam, o que é absolutamente normal para qualquer um de nós, a depender do assunto.
Entretanto, apesar do conhecido silêncio de Roberto sobre o tema, o fato é que a política interfere na vida de todos, em todos os momentos e sob todos os aspectos. Por isso há tantas cobranças, geralmente da imprensa e de ativistas, para que ele manifeste suas preferências e opiniões. Nós sabemos que nas monarquias, o partido do rei é o Moderador, a exemplo de nosso grande imperador Dom Pedro II, durante o Segundo Reinado. Mas, como estamos numa República, nos atrevemos a fazer breves comentários sobre o comportamento político de RC nos últimos 50 anos.
Se o ditado popular diz que quem cala consente, aqui começam os problemas de Roberto. Seu auge do sucesso ocorreu durante o regime autoritário (1964-1985) e nunca se ouviu do Rei uma única contestação pública aos atos do governo militar. Ao contrário, esteve na folha de pagamento do Ministério de Educação e Cultura até 1970, quando já era um superastro ─ era funcionário lá, ainda antes do golpe militar e de se tornar famoso ─, cantou em dois anos consecutivos nas Olimpíadas do Exército (Elis Regina também participou de uma), foi nomeado para a Comissão Nacional Antitóxico em 1972, foi agraciado com a Medalha do Pacificador pelo General Médici em 1973, elogiou e agradeceu a presença de Pinochet num show em Viña Del Mar em 1975 e ganhou, do General Figueiredo, uma concessão de rádio em 1979 (Rádio Terra de Belo Horizonte).
Não é pouca coisa, enquanto vários de seus pares na classe artística comiam o pão que o diabo amassou nas mãos da Censura, sendo que alguns foram para a cadeia e para o exílio. A visita a Caetano e Gil no exílio em Londres e a composição “Debaixo dos caracóis de seus cabelos”, dedicado ao primeiro, são pontos fora da curva na tranquila relação entre RC e os militares. Entretanto, por incrível que possa parecer, não há um fato concreto ou declaração pública, relativos ao Rei da Jovem Guarda, que denotem colaboração explícita ou mesmo aprovação dos atos da ditadura. É possível que os militares tenham se aproveitado de sua enorme popularidade e apatia política para colher dividendos, colando sua imagem aos feitos do Governo. Neste caso, RC não teria sido o único artista brasileiro que passou por essa situação, embora Wilson Simonal tenha sido único marcado e “condenado” pelo suposto alinhamento com o regime.
Com a redemocratização cessaram essas cobranças de posicionamento, que só vieram a ressurgir com a polarização e radicalização dos últimos anos. De novo, o silêncio do Rei gera especulações. Pelo seu temperamento conservador e por pequenas e raras declarações no declínio de Dilma, é razoável imaginar que o mito (verdadeiro) Roberto Carlos tenha sido seduzido pelo mito de mentira e da mentira. De novo, é um direito seu e estaria, segundo seus críticos, de acordo com a postura que manteve durante toda a vida. É provável que, tal como nos anos de chumbo, nunca saberemos o que ele pensa de verdade.
Contentemo-nos com sua obra. Também, não é pouca coisa.
Quem, de alguma maneira, está numa posição de “estrela” ou de influenciador, como se diz hoje, é esperada uma posição pq a nossa vida é política, não existimos sem ela.
Se o REI pecou, o pessoal da esquerda caviar e uísque escocês também pecou, pois faturou muito durante a ditadura r mais ainda depois que a esquerda corrupta assumiu o poder. Todos pecaram e pó precisam de misericórdia
Às vezes é preferível calar do que falar asneiras. Cada pessoa fala ou faz o que entende. Sempre há “médicos, dentistas, engenheiros e etc de plantão ” dando palpites ou expressando ideias sem conhecimento. Desculpo o REI porque ninguém é obrigado a expor o que sente. Ninguém é obrigado a testemunhar contra si.
De fato, Salmon, opiniões dá quem quer. Mas, quando passamos para o terreno das ações, então, temos que assumir as responsabilidades. Algumas das ações de RC, involuntárias ou não, passaram a impressão de, no mínimo, concordância.
Humberto, você fez um histórico muito bom. Despertou a curiosidade sobre o homem de Cachoeiro. Há
na narrativa elementos que eu desconhecia. Não sou advogado do rei e não gosto de muitas de suas músicas. Porém quem faz o REI é a submissão, é o cetro, é a coroa. Ele conseguiu, a “GALERA ” lhe deu o trono.
A ação política, pró ou contra, de direita ou de esquerda, é primordial?
Quero dizer, posição política de um artista ou idolo.
Entendo que sim. O que não significa ativismo. Devemos, se e quando provocados (no bom sentido), manifestar nosso posicionamento. O ativismo é uma opção individual, que tem seus custos. Portanto, não podemos cobrar de ninguém.