Chega, por ora, de falarmos de dívidas, de fraudes e de nossas deficiências em cuidar de nosso dinheiro. Vamos ser mais propositivos. Vamos buscar os caminhos para a saudável vida financeira agora no presente e, mais adiante, num futuro que nunca está muito longe. É hora de pensar em investir, seja para criação de uma reserva ou para construção de patrimônio.
Aqui começam as diferenças. Poupar é uma coisa, investir é outra. Geralmente, poupa-se para criação de uma reserva, que pode ser para prevenção de emergências ou para uma finalidade específica ─ casamento, viagem, cursos, etc. Nessa situação é comum que nós definamos o valor a ser poupado, por exemplo, uma reserva equivalente a seis meses das despesas mensais para sobrevivermos a um período de afastamento do trabalho. Ou ainda, um valor que julgamos suficiente para as merecidas férias no Algarve ou nos Lençóis Maranhenses.
Por outro lado, quando você investe, o seu objetivo é criar ou aumentar o seu patrimônio, ou seja, um projeto de médio e longo prazo. Nesse caso, investimento não se resume a aplicar dinheiro. Pode ser, também, a aquisição de um imóvel, o gasto na sua educação formal, a abertura de um negócio, etc. No presente artigo, vamos falar de aplicações em dinheiro, sejam elas para fins de poupança ou de investimento.
São três os fundamentos de uma boa aplicação: segurança, rentabilidade e liquidez. E um o objetivo mínimo: rendimento acima da inflação. O sonho de todo investidor é maximizar aqueles fundamentos, mas quase nunca isso é possível. Em geral, quando lhe oferecem os três, em níveis satisfatórios para você, há uma grande possibilidade de você vir a ser vítima de uma fraude financeira. Então, cabe ao investidor, definir sua prioridade, ou melhor, sua ordem de prioridades.
Os mais conservadores tendem a privilegiar a segurança; os moderados, a liquidez e os agressivos, a rentabilidade. Mas isso não é uma regra universal. O perfil de cada investidor passa por vários outros fatores como a idade, patrimônio familiar, resiliência, propensão a correr riscos, etc.
Por décadas, os brasileiros colocaram quase todas suas aplicações na caderneta de poupança. Segura, razoavelmente rentável e com liquidez aceitável (trinta dias sem perder juros) a caderneta era, até 1994, em muitos casos, a única alternativa de aplicação para a maioria dos brasileiros. Com a estabilização da economia e a diversificação do mercado financeiro começaram a surgir novas modalidades de investimentos, além de melhores informações sobre outras já existentes na época: ações, títulos do governo, operações de crédito, CDBs, etc.
O incessante e incontrolável processo de sofisticação do mercado financeiro abriu possibilidades quase infinitas de diversificação das aplicações. Esse processo, da mesma forma que aumenta as alternativas, aumenta os riscos para os investidores. Daí a importância do investidor ter, pelo menos, as noções básicas, que lhe possibilitem conciliar seus objetivos com os produtos financeiros, que diuturnamente lhe são oferecidos.
A mais recente e importantíssima transformação no mercado financeiro nacional foi a redução da taxa básica de juros da economia (SELIC) ocorrida a partir de 2016. Até então, o Brasil era considerado o paraíso da renda fixa, a aplicação mais segura. Com altas taxas de juros, qualquer investimento em renda fixa (poupança, CDB, CDI, Tesouro Direto, entre outros) rendia muito mais que a inflação, propiciando boa rentabilidade, com razoáveis segurança e liquidez. Esse mundo não existe mais e não há evidências de que ele voltará, pelo menos a curto e médio prazos.
Portanto, se você pensa em investir (não em poupar) está quase obrigado a diversificar seus investimentos. E diversificar significa, nesse caso, correr mais riscos. Correr riscos não significa aventurar-se. Calcular os riscos é essencial. Há informações e ferramentas ─ no site do Banco Central, por exemplo ─ , que podem ajudá-lo a escolher boas e seguras alternativas. Vamos tratar delas aqui em outros artigos.
Por enquanto, aí vai uma informação: a caderneta de poupança nos últimos doze meses rendeu 2,29% (depósitos após 04/05/2012) e a inflação no mesmo período atingiu 3,88%. Ou seja, os brasileiros que têm, no total, quase R$ 800 bilhões na caderneta de poupança jogaram fora (perderam) R$ 5 bilhões neste ano. Você é um deles?