É claro que você não esquece dinheiro na gaveta. Aliás, você nem guarda dinheiro na gaveta. Você usa tão pouco dinheiro em espécie, que suas retiradas nos caixas eletrônicos são cada vez mais raras e de menor valor. Não há gente mais chata do que aqueles que tentam vender alguma coisa, mas não aceitam cartões e, a partir de agora, o PIX. Estão na atividade errada, num mundo paralelo e no momento impróprio. Seus negócios desaparecerão em breve.

No entanto, você deixa valores na gaveta, sim. E pior, deixa ali até que eles percam todo seu valor. Em 2019, os brasileiros deixaram expirar inacreditáveis trinta bilhões de reais em pontos e milhas de seus programas de fidelidade, ou seja, deixaram de utilizar um “dinheiro” disponível, que já era seu de pleno direito. Se considerarmos, também, os programas de fidelidades de lojas de departamentos, redes de supermercados, restaurantes, cinemas, pizzarias e tantos outros, esse valor será bastante superior, quase o dobro. 

Programas de Fidelidade

Da mesma forma, os créditos oferecidos pelos governos estaduais e municipais para estimular o consumidor a solicitar a nota fiscal são ignorados duas vezes pelo consumidor/cidadão: primeiro, no momento da compra, não fornecendo o CPF, às vezes, nem solicitando a nota. Depois, mesmo quando tendo pedido a Nota Fiscal com seu CPF, deixa de resgatar, no tempo apropriado, seus créditos.

Nem todo mundo viaja de avião, mas todo mundo tem cartão de crédito e consome bens e serviços. Portanto, todos somos potenciais clientes de um programa de fidelidade. E cada vez mais expandem-se as oportunidades de compras e pagamentos com esses créditos, até mesmo de contas de concessionárias de serviços de água e luz e de recolhimento de impostos.

Milhas expiradas

Outro dia, chamei aqui de grande vilão o cartão de crédito. Flagrante injustiça, pela qual peço desculpas. O problema não está no cartão de crédito, que é absolutamente útil e necessário. O problema está no seu uso. Há diversos erros que as pessoas cometem ao lidar com seus cartões. O maior deles: ter mais de um. Por que razão, alguém precisa de mais de um cartão de crédito? Por certo, pensa em utilizá-los como complemento da renda. O caminho mais rápido e certeiro para o desastre.

Depois, essa mesma pessoa não analisa as características do cartão antes de aceitar a oferta do seu gerente ou da moça do telemarketing. Qual o valor da anuidade? Essa oferta de isenção de anuidade vale até quando? As taxas de juros da operadora são compatíveis com as do mercado de cartões? O cartão tem programa de fidelidade? Em quanto tempo expiram os pontos acumulados? Eu poderei controlar meu saldo de pontos? Pode parecer primário, mas a maioria dos consumidores não segue esse roteiro básico. E perde duas vezes: quando paga juros mais altos e quando não utiliza seus pontos, o que vale, também, e principalmente, para aqueles que pagam em dia as faturas do cartão. 

Além da perda individual, perde, também, a economia, porque com as milhas, pontos ou crédito de impostos não utilizados, deixam de ser adquiridos uma infinidade de produtos e serviços, que fariam movimentar os negócios e alavancar empregos. É bem lembrar que os programas de fidelidade nasceram dentro das empresas e hoje se constituem em empresas próprias e específicas para essas transações. Por sinal, empresas bastante lucrativas que ganham, por um lado, com o desleixo dos consumidores com seus pontos e, por outro,  manipulando os preços (em pontos) de resgate de bens e serviços.

Vamos viajar

Não é hora de perder dinheiro. Vamos utilizar as milhas, pontos e créditos a que temos direito. Afinal, não se iludam, eles não lhes foram dados de graça; estavam no preço do produto que você comprou. Bem vindo ao Capitalismo.

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