Não dá para deixar de falar da caderneta de poupança. Ela ainda é a opção favorita de mais de 70% dos investidores brasileiros. Pela sua simplicidade,  disponibilidade e familiaridade, quase sempre, a caderneta de poupança é o primeiro investimento de jovens e adultos, que pensam em construir uma reserva, seja de emergência, seja para planos de médio prazo ou mesmo para o futuro após a carreira profissional. Num primeiro momento, é bastante compreensível essa preferência nacional. Afinal, a caderneta existe há mais de um século e proporcionou rendimento e segurança por décadas, mesmo naqueles sombrios anos 80 de hiperinflação.  Nem mesmo o confisco de Collor abalou a confiança dos brasileiros na poupança,  até porque aquele dinheiro acabou sendo devolvido e atualizado.

Mas o mundo mudou. Que novidade, hein. Quando foi que ele não mudou? 

Para os adeptos da caderneta, a grande mudança ocorreu a partir de 04 de maio de 2012. Até aquela data, a poupança rendia TR + 6% ao ano. Como a TR, normalmente,  acompanhava a inflação, os juros garantiam o ganho real de 6% todo ano. Ótimo negócio. Rentável e seguro. Não havia sequer estímulo para o oferta de outros produtos financeiros. Poucas pessoas mostravam interesse em outros investimentos. Somente pessoas de alta renda e profissionais do mercado financeiro aventuraram-se na Bolsa de Valores, Fundos de Investimentos, Títulos Públicos,  etc.

Entretanto, a partir de Maio de 2012, o rendimento passou a ser 70% da taxa SELIC, a taxa básica de juros da economia definida, a cada 45 dias, pelo Banco Central. Para piorar a situação dos adeptos da caderneta, a partir do final de 2018, tentando estimular a economia o BC começou a reduzir a SELIC. De 7% em Dezembro de 2018, ela chegou a 2% em Março de 2021.  Depois, voltou a crescer e hoje está em 4,25%. Nos últimos trinta meses, a taxa SELIC tem estado em percentual inferior ao da inflação oficial, o IPCA. Qual o resultado de tudo isso?

Em 2019, os brasileiros tinham R$ 840 bilhões na caderneta, que rendeu no ano o mesmo que a inflação. Empatou. Mesmo com ganho real zero, continuamos acreditando e o saldo de depósitos na poupança pulou para R$ 1,1 trilhão. Mas, dessa vez o estrago for maior. A poupança rendeu 2,11% e  a inflação pulou para 4,52%. Perda real para os poupadores de 2,32%. Isso significa que a perda real, em todas as contas, chegou a astronômicos R$ 25 bilhões.  Um pouco menos, talvez, porque os depósitos feitos antes de 4 de maio de 2012, continuaram a render 6% ao ano (hoje a TR é zero). Para 2021, o desastre, certamente, será  maior. A inflação sobe pelo elevador e a SELIC pelas escadas.

Trazida para o plano individual, a perda não deixa de ser significativa e, pior, poderia ter sido evitada. Até 2019, podíamos dizer que quem colocava dinheiro na caderneta de poupança não investia, apenas poupava. De 2020 para cá,  nem isso mais é verdade. Quem está na caderneta está perdendo dinheiro, corroído pela inflação. Mesmo o argumento da ausência de risco para justificar a opção já não faz sentido, assim como a liquidez. Afinal, o mesmo governo que garante a caderneta, é quem garante as aplicações títulos públicos (Tesouro Direto), que rendem acima da inflação e podem ser negociados diariamente.

É para correr para o banco amanhã cedo e zerar a poupança? Claro que não.  Mas, é  hora de pensar e aprender mais sobre as alternativas, que não são apenas os títulos do Tesouro Direto.  O futuro não espera. Não basta poupar. É preciso aumentar seu património ou reserva. Investir com segurança, rentabilidade e liquidez não é arte, é ciência e prudência. Ainda que não seja uma ciência exata, é melhor que jogar dinheiro pela janela. 

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