Desde o final dos 90 estão em uso em nosso país as urnas eletrônicas. Confirmando a tese de que não há povo no mundo que goste mais de votar que o brasileiro, rapidamente nos adaptamos ao novo sistema. Independentemente do grau de escolaridade, da condição econômica ou da classe social, a maioria dos eleitores aprova o seu uso e celebra o fato de que, algumas poucas horas após o término da votação, os municípios, os estado e o país já podem conhecer seus novos líderes ou representantes.
Não restam dúvidas que o atual sistema é menos sujeito a fraudes que os anteriores, que usavam cédulas de papel, em especial, na contagem dos votos. Só quem participou das mesas de apuração do período anterior, pode descrever a baderna e insegurança daqueles sistemas, nos quais votos eram ganhos no grito pelos fiscais dos partidos. Sem contar os constrangimentos das moças e senhoras apuradoras ao lerem os desabafos que alguns eleitores teimavam em escrever nas cédulas. Hoje já não é possível votar no rinoceronte Cacareco ou no macaco Tião, nem saudar a mãe do candidato, ainda que continuemos votando em figuras bastante estranhas. Mas, isso é outra estória,
Apesar disso, ainda há muitas pessoas e grupos que duvidam da segurança e confiabilidade das urnas eletrônicas. Ainda que não apresentem provas concretas, nem tenha ocorrido até hoje, nenhuma queixa ou ação legal proposta por pessoas ou partidos contestando resultados, nem ocorrências documentadas no momento da votação, não é de todo absurdo imaginar que fraudes podem ocorrer em qualquer sistema, em qualquer situação.
Deve-se, também, levar em conta que não se pode atribuir favorecimento do sistema de votação eletrônica a qualquer partido ou candidato, uma vez que nesses últimos vinte anos, sempre houve rotatividade de candidatos e partidos eleitos para todos os cargos e em todos os níveis da federação ( exceto o Governo do Estado de São Paulo, mas as razões são outras).
Parece-me, entretanto, que há um forte componente ideológico nessas queixas, que, por sinal, nunca acontecem com o queixoso. É sempre com uma vizinha da prima do seu cunhado, a qual nunca faz um BO, nem pede que a ocorrência seja verificada e registrada pelo presidente as seção eleitoral. Outra coincidência é que o número em que a máquina “obrigou” essa senhora a votar é sempre de um partido antagonista ao do queixoso.
Uma queixa comum desses grupos é a impossibilidade de auditoria dos votos computados. É uma meia verdade. Todo o processo anterior à votação, ou seja, implantação dos programas e lacração eletrônica das urnas, é fiscalizado pelos partidos. Da mesma forma, o inicio e o término da votação exigem operações (zeragem e impressão do resultado), que contam com a presença de fiscais do partido. Além disso, ficam preservados na urna, para casos de solicitação de auditoria, todos os registros individuais de votação, sem identificação do eleitor, claro.
Por outro lado, não se pode garantir segurança e confiabilidade absoluta, que inexistem até em sistemas muito mais complexos e protegidos. Alguns países que optaram pelo sistema eletrônico, inclusive o Brasil, vêm fazendo ao longo do tempo aperfeiçoamentos em seus sistemas e programas. Na Alemanha, por exemplo, é obrigatória a impressão de cada registro de votação, que é transferido para outra urna, para futura verificação, se necessário. Óbvio que o eleitor não leva para casa o registro de seu voto.
O que se deve descartar, por obsoleto e dispendioso, é o retorno do preenchimento de cédulas de papel pelo eleitor, tampouco a apuração manual dos registros impressos para divulgação dos resultados. Não é hora de andar para trás.