Quando eu era criança, por volta dos 7 ou 8 anos, o passeio que eu mais gostava de fazer era ir à casa da minha avó materna Adelina, em São Caetano do Sul.
Morávamos na Zona Leste e, há alguns anos, ir para outra cidade era realmente uma viagem, pois não tínhamos carro e essa viagem era de ônibus ou de trem. Este passeio era sagrado, pelo menos uma vez por mês, tínhamos que visitar minha avó e era aquela alegria.
Esperávamos ansiosamente por este dia, minha mãe, minha irmã, meu irmão e eu. Era o dia de acordar cedo, vestir a melhor roupa e sair, felizes da vida.
Este passeio, para mim, era sempre uma grande festa, tudo era bonito nos meus olhos de criança, e depois eu me encontraria com meus primos, meus tios tão alegres e queridos. Eu sabia que seríamos recebidos com aquele almoço que minha avó preparava com todo amor e carinho.
A minha avó, filha de italianos, adorava o meu irmão e, na verdade, sempre fazia para ele o almoço, tendo como prato principal, o pernil.
E mesmo não sendo especialmente para mim eu adorava e o cheiro daquela comida marcou tanto que eu sinto e me lembro dele até hoje.
O tempo passou e tudo mudou, a casa da avó se desfez. Meus tios foram, cada um para um lado, e minha avó se mudou para uma cidade distante com um de seus filhos. O almoço com pernil na casa da minha avó, nunca mais.
Porém, ela deixou um grande ensinamento: minha mãe Maria herdou o dom da cozinha e até hoje prepara para nós, filhos, netos, bisnetos e agregados, o divino pernil.
Ela segue uma rotina: o pernil tem que ser pequeno, ela coloca os temperos um dia antes, vai virando, revirando durante todo o dia, e levanta-se às 06h da manhã do domingo para colocar no forno. São cinco, seis, sete horas assando e exalando aquele cheiro, que percorre as ruas da vizinhança, igualzinho ao da minha avó.
Hoje as lembranças vão além porque, minha avó e quase todos
os tios já partiram, mas aqueles momentos permanecem e aqueles dias são sempre muito lembrados, especialmente quando temos um pernil na mesa…
