por Rodolfo Ortriwano


Sobre o autor: Rodolfo Ortriwano é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Trabalhou nos seguintes órgãos de comunicação: TV Globo, Sistema Globo de Rádio e nas Rádios Excelsior, Eldorado e Jovem Pan. Foi Editor dos seguintes programas: Jornal da Manhã (Jovem Pan), Jornal Ouça (Excelsior) e Jornal da Eldorado. Foi, por duas décadas, Professor e Coordenador do Curso de Comunicação Social da Universidade Brás Cubas.

A Família Ortriwano – Acervo do autor

Avô, avó, tio, tia, e primos. Demorei muito para descobrir o significado tão simples dessas pequenas palavras. Família para mim era o que eu tinha em casa, aqueles que eu via toda hora: pai, mãe, irmã, irmão… e eu. Isso era e foi minha família, sempre muito isolada e discreta. O bairro, Parque Cruzeiro do Sul, afastado de tudo, também tinha muitos imigrantes. Eram poloneses, húngaros, alemães, iugoslavos, portugueses, gente de todos os lugares. Meu pai trabalhava muito longe. Eu só o via à noite. Quando ele saia de manhã cedinho, ainda madrugada, eu estava dormindo. Minha mãe, para ajudar no orçamento, colava saquinhos de celofane. Isso mesmo…..colava saquinhos de celofane que embrulhavam as mortadelas antigas. Centenas ou milhares de saquinhos colados o dia inteiro. O pagamento era irrisório, mas ajudava. E a vida seguia sofrida, mas feliz. O Natal, época em que a gente montava a árvore, pinheiro de verdade, cheia de enfeites, foi o começo da descoberta do significado das pequenas palavras. Tio, tia, vô, vó, primos… A gente ficava em casa pra comemorar o que, na época, eu não sabia bem o que era. Meu pai era russo ortodoxo e falava em São Nicolau; minha mãe, alemã, católica. Mas, não se falava de religião em casa. A gente fazia nossa ceia, bem simplesinha. Meu pai sempre dava alguma coisa, tipo um carrinho feito por ele mesmo. Minha mãe nos presenteava com bichinhos que ela fazia com lã… Tricô e crochê…. Bonitinhos… Ah, sempre tinha nozes… Depois disso, cama… Nas casas vizinhas, dos amiguinhos, muita gente reunida, muito falatório, muita risada. Uma festa.

Rodolfo, Gisela e Herbert – Acervo do autor
Rodolfo e Gisela em 1954 – Acervo do autor

Numa manhã de Natal, o dia seguinte da ceia, vi meus amiguinhos cheios de presentes. De quem você ganhou? Dos meus tios. Tios? Isso, irmãos do meu pai e da minha mãe. Dos meus avós… Avós? Mãe e pai da minha mãe e do meu pai… E as crianças? Primos. Primos? Sim, filhos dos meus tios e tias. Pronto tudo explicado. Só que eu não tinha avó, avô, tio, tia e primos. Éramos só nós. O mais próximo do conceito de família seriam meus padrinhos. Ele ucraniano, Ostapenko, ela alemã, dona Sophia. Meu pai, depois da guerra, nunca mais soube de ninguém da família dele… Minha mãe tinha um irmão que morreu na guerra. Restava uma única tia, irmã da minha mãe… Demorou, mas conheci essa tia quando eu tinha 59 anos de idade. Fui lá em Füssen, na Alemanha, conhecê-la.. Pertinho de Munique… Chorei muito… Conheci seus filhos, meus primos. Minha vontade foi voltar para o Brasil naquele momento, abraçar minha mãe e dizer: conheci sua irmã, minha tia… Mas era 2012. e minha mãe tinha morrido em 2005…chorei mais uma vez…

Rodolfo e a tia de Füssen – 2012 – Acervo do autor
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