Enriquecer, materialmente, é um direito legítimo, natural e humano. Para materialistas, sem alma e sem coração, como eu, chega a ser um objetivo de vida. Se eu não consegui, foi por pura incompetência, não por falta de tentar. Mesmo que não seja por ganância, necessidade de ostentação ou transtorno de acumulação compulsiva, ainda sobrarão boas e justificadas razões para que o indivíduo busque acumular patrimônio. A mais básica, tem uma ligação com o nosso mais remoto passado, ou melhor, com nossa origem: o instinto de sobrevivência e da preservação da espécie. Os tempos atuais desprezam, por civilidade e conveniência, a justificativa do instinto biológico e o substituem por legado, segurança na velhice, proteção aos descendentes, etc.

Entretanto, essas não são as únicas razões da busca individual pela riqueza.  Poder e Riqueza têm sido quase sinônimos na história da Humanidade. Juntos com o Sexo, formam a tríade que fez o gênero humano evoluir dos primeiros australopitecos até o homo sapiens, ou do cantor carioca Belo ao compositor austríaco Mozart. Já se vão, aproximadamente, seis milhões de anos e, do ponto de vista de nossos instintos primários, pouca coisa mudou. Então, é possível concluir que o homem e a mulher, claro, buscam fortuna para ter mais sexo e poder. Ah, e o Amor? Este é uma invenção do século XIX para vender livros, depois filmes, peças de teatro, novelas, arruinar casamentos e, hoje, para postar no Instagram. 

Então, se enriquecer é bom e justificável, onde está o problema? Por certo, está nos métodos. E não me refiro aqui a aspectos morais ou legais. Estes são assuntos de outras editorias. Tenho fé e ciência de que nós, editores e leitores, estamos entre aquelas pessoas que não esqueceram as lições de ética e justiça, que recebemos de nossos pais, professores e mentores. 

O que nos interessa nesse artigo é discutir o mito do enriquecimento fácil e rápido. Como todo mito (aquele, inclusive), este, também, traz muito pouco de verdade e generosas doses de fantasia, má fé e mistificação. Criou-se, na realidade, uma indústria de sonhos. Sejam reais ou virtuais, multiplicam-se livros, cursos e palestras, escritos e ministrados por infalíveis gurus, que prometem o paraíso e a bonança eterna para aqueles que se dispuserem a seguir seus conselhos. Funciona? Para os gurus é quase certo que sim.

Já para os seguidores, a coisa costuma acontecer de modo bastante diferente. Primeiro, porque não existe nenhum método de enriquecimento fácil e rápido. Não é razoável acreditar que qualquer ser humano tenha encontrado as fórmulas certas, nem mesmo apenas uma delas, de ganhar na loteria; de acertar as ações que vão “bombar” na Bolsa; de encontrar o investimento financeiro, que seja sempre o mais rentável e seguro; de descobrir um nicho exclusivo e lucrativo para um grande negócio; de nascer numa família rica ou casar-se com uma pessoa bem nascida, entre outras possibilidades. Mais certo ainda, é que alguém que tivesse encontrado tais fórmulas, jamais as dividiria com estranhos como nós.

Acontece de, aleatoriamente, dar certo para alguns. Mas, estatística e realisticamente, são tão poucos, que seria uma aposta muito arriscada jogar seu futuro nelas. Dados da revista americana de negócios e economia, Forbes, mostraram que na lista das cem maiores fortunas do mundo, apenas oito estão na lista por causa de heranças familiares e nenhum por ter ganho na loteria. Em geral, foram fortunas construídas por anos de trabalho e de estudo, aliadas à muita disciplina, persistência, resiliência e coragem de enfrentar e vencer desafios.

Pronto, não resisti e vou dar-lhes um conselho, e de graça, para ficar rico: depois dos seis anos de idade, esqueça o Papai Noel; estude e trabalhe todos os dias de sua vida, sem esquecer do lazer, com a família e os amigos, nos fins de semana, feriados, férias, horário de almoço e happy hours; seja disciplinado, persistente, resiliente, corajoso e honesto (no mínimo, com você mesmo) e fique atento às oportunidades. 

Se lhe ocorrer, novamente, me perguntar: Por que não deu certo para você? Eu respondo: porque a receita não é igual para todo mundo. Busque a sua dentro de você. Talvez você se dê conta de que não é isso que você quer.

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Edna
Edna
3 anos atrás

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