O Brasil ama novelas. Sempre amou. Desde as radionovelas dos anos 40 e 50 até as atuais telenovelas, superproduções bíblicas e profanas, são mais de oitenta anos de contínua e rica produção, que alcançou padrão internacional de qualidade e arrebatou mercados e prêmios pelo mundo afora. Embora se possa afirmar que o tempo áureo das telenovelas passou, assim como havia passado o das novelas de rádio, ambas confrontadas por novas mídias, não é possível negar a importância de seu legado para a cultura e história do Brasil.
Embora já existisse o radioteatro desde os anos 30, a primeira radionovela brasileira, no formato de capítulos diários ─ Em busca da felicidade ─, estreou em Junho de 1941, adaptada de um original cubano por Gilberto Martins. Seguiram-se vários outros sucessos e, em sua esteira, diversos autores e roteiristas brasileiros, que não se limitaram a adaptar obras estrangeiras. Oduvaldo Viana, Amaral Gurgel e o próprio Gilberto Martins, entre outros, criaram obras originais, que também foram grandes sucessos, principalmente, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro e na Rádio São Paulo.
Um parêntese para comentar sobre um dos mais importantes elementos da radionovela: a sonoplastia. Quem já ouviu uma radionovela, recorda-se de que o sonoplasta era tão importante quanto qualquer dos protagonistas da estória. Raios, trovões, tempestades, tropel de cavalos, bofetadas, quedas e acidentes com carros eram produzidos por tampas de panela, rasgar de folhas, castanholas, pratos, latinhas, tubos de PVC e pedaços de madeira.
Muito embora o Doutor Albertinho Limonta nunca tenha chegado, no rádio, ao nível da fama do personagem “Jerônimo, o herói do sertão”, a radionovela de maior sucesso de todos os tempos, que repetiria igual façanha na televisão, foi “O Direito de Nascer”, irradiada entre 1951 e 1953. Com 314 capítulos, a trama ganhou, dos ouvintes e da imprensa, o hilário apelido de “o direito de encher”, uma injustiça para tão grande êxito. Por coincidência, nessa época começa a história da novela da televisão. Atores, atrizes, roteiristas e técnicos migraram para o novo meio de comunicação, ou melhor, transitaram entre ambos, até que a televisão estabelecesse sua primazia sobre o rádio, a partir dos anos 60.
Paulo Gracindo, Dias Gomes, Mário Lago, Walter Foster, Janete Clair e Ivani Ribeiro foram alguns dos grandes nomes da dramaturgia, que saíram do rádio para criar o modelo brasileiro de telenovelas. Também veio do rádio para a televisão, um sonoplasta, depois radioator, em início de carreira, muito talentoso e criativo, que se tornaria uma lenda da televisão brasileira: Lima Duarte. Esse grande ator e diretor atuou na primeira novela da televisão brasileira: “Sua vida me pertence. Criada e dirigida por Walter Foster, transmitida, ao vivo, pela TV Tupi de São Paulo, entre Dezembro de 1951 e Fevereiro de 1952 em dois capítulos semanais e apenas dois cenários. Num deles aconteceu o primeiro beijo da televisão no Brasil.
Mas foi nos anos 60, que a telenovela entrou de vez no cotidiano dos brasileiros. Primeiro com o colossal sucesso da versão televisiva de “O Direito de Nascer, fenômeno nunca visto antes no Brasil. Os atores e atrizes se tornaram figuras nacionais de enorme fama e seu final foi acompanhado com a mesma comoção de uma final de Copa do Mundo. As festas de encerramento da novela no Rio e em São Paulo foram eventos públicos, que atraíram multidões.
A partir daí, todas as emissoras passaram a investir no formato. Seguindo a pioneira Tupi, a TV Excelsior produziu grandes sucessos como “Redenção” e “A moça que veio de longe”. Mesclou os veteranos do rádio com jovens atores e atrizes, que agora precisavam ser bonitos, para atrair audiência e anunciantes, além de trazer para a TV nomes já consagrados no teatro como Fernanda Montenegro, Procópio Ferreira e Rodolfo Mayer.
No final dos anos 60, houve uma mudança fundamental no produto telenovela. Desapareceram os dramalhões, geralmente adaptados de obras estrangeiras, com estórias passadas em ambientes e personagens estranhos ao cotidiano brasileiro como desertos, reinos longínquos, sheiks, ciganas, piratas, etc.. As novelas, agora totalmente nacionais, tratavam de temas urbanos e modernos, que iam ao encontro dos sonhos e emoções das pessoas comuns. A mudança começou, novamente, pela Tupi com “Antonio Maria”, “Nino, o italianinho” e, o maior sucesso de todos: Beto Rockfeller”, criada por Cassiano Gabus Mendes, escrita por Bráulio Pedroso e dirigida por ele, Lima Duarte.
A entrada da Globo na modernidade das novelas vem de um episódio bastante curioso e inusitado. A novela “Anastácia. A mulher sem destino”, um dramalhão adaptado e arrastado, ia muito mal em audiência, quando a emissora chamou Janete Clair para dar um jeito na situação. Diante de um desafio quase insuperável, a esposa de Dias Gomes não titubeou: inventou um terremoto na cidade onde se passava a trama, matou quase cem personagens e, praticamente, começou de novo. Dali em diante, ela se consolidaria como a mais bem sucedida novelista de toda a história da televisão. É quase impossível destacar entre suas obras do período 1969-1983, qual teria feito mais sucesso. Todas foram campeãs de audiência com índices que jamais seriam repetidos, casos de Véu de Noiva, Irmãos Coragem, Selva de Pedra, Pecado Capital e O Astro, entre outras.
A entrada da Globo na modernidade das novelas vem de um episódio bastante curioso e inusitado. A novela “Anastácia. A mulher sem destino”, um dramalhão adaptado e arrastado, ia muito mal em audiência, quando a emissora chamou Janete Clair para dar um jeito na situação. Diante de um desafio quase insuperável, a esposa de Dias Gomes não titubeou: inventou um terremoto na cidade onde se passava a trama, matou quase cem personagens e, praticamente, começou de novo. Dali em diante, ela se consolidaria como a mais bem sucedida novelista de toda a história da televisão. É quase impossível destacar entre suas obras do período 1969-1983, qual teria feito mais sucesso. Todas foram campeãs de audiência com índices que jamais seriam repetidos, casos de Véu de Noiva, Irmãos Coragem, Selva de Pedra, Pecado Capital e O Astro, entre outras.
Tarcisio Meira e Glória Menezes, Francisco Cuoco e Regina Duarte, Cláudio Marzo e Dina Sfat; Sergio Cardoso e Aracy Balabanian; Tony Ramos e Rosamaria Murtinho, um pouco antes Carlos Alberto e Yoná Magalhães, secundados por extraordinários coadjuvantes, sofriam e se desencontram em uma centena de capítulos até que o final feliz coroasse amores possíveis e impossíveis, embalados por trilhas sonoras de altíssima qualidade.
Claro que foram realizadas boas novelas nos anos posteriores, mas se o assunto é História, podemos ficar por aqui. Dos anos 90 em diante, a novela virou assunto para “Amiga” e “Ti Ti Ti”.