Por Cristina Bonafé
Estou plena, com muito de tudo. Generosas alegrias e tristezas avassaladoras.
Diante de tantas mortes, estarrecidos vemos, de uma hora para outra, partir de nosso planeta pessoas queridas e milhões de outras desconhecidas, sem poupar animais e florestas, em triste devastação por doença pandêmica, por incêndios propositais, por intempéries e desastres naturais, por atentados e guerras. Ao mesmo tempo, quanta vida resiste, se preserva, surge e se exibe pulsante, aquecida, iluminada! Nestes limites entre o tudo e o nada, viver se torna ainda mais precioso e o sentido do que fazemos se agiganta.
Muita sabedoria e ações que salvam seres e nos trazem alento. Mas não nos abandona também a persistência da ignorância em palavras e atos, que pode estagnar a nossa civilização e solapar o futuro.
Muita riqueza se concentra e muita pobreza se espalha.
Tudo é muito, é grande! Exagerado!
Vivo na reviravolta do mundo em meio a uma pandemia que surgiu do nada e tomou a cena de tudo. Para enfrentá-la, o mergulho em inevitável quarentena. Quinze meses parecem ser quinze anos. Tarefas domésticas, profissionais e de lazer acontecem de forma domiciliar e on-line, sobrepondo-se em um emaranhado que me faz acreditar ter o dia mais de vinte e quatro horas, o cotidiano diário parece interminável.
Que bom que, em meio a tudo isto, palavras boas surgem e me banham com bálsamo, como se fossem um aconchegante abraço! Receber e doar palavras e atos que carregam em seu cerne o encantamento me preenchem com o enlevo de um contemplar o mar no crepúsculo da manhã. Mas não consigo fugir de notícias ruins ou falsas nem de palavrões e de discórdias, o que, neste instante, dá vontade de entrar em uma nave espacial e descer em Marte.
Lágrimas, muitas lágrimas… E rir de tudo, até do que não tem graça que, como milagre, se transforma em hilária anedota. Treinar o sorriso como exercício de sobrevivência.
Fatos e pensamentos me trazem o medo apavorante, deixando-me como se fosse uma criança presa em um quarto escuro. O pânico paralisante da perseguição de monstros de todos os tamanhos, inclusive os microscópicos e invisíveis vírus. E aí vem a coragem de um soldado na frente de batalha, que tudo enfrenta e vence em virtude de sua determinação. Prendo a respiração pelo susto!… E o ar me vem arrancado das entranhas. O suspiro de alívio!
Tempos difíceis, tamanhos desafios… Por isso mesmo, tantas vitórias!
Vejo heróis anônimos, vindos de todos os lugares do planeta. Pessoas fortes, corajosas, a nos proporcionar exemplo e ânimo. Com garras que não se sabe de onde brotam.
Quando penso que tudo irá esmorecer, lá vem a força para enfrentar mais um dia. Se os acontecimentos são de proporção astronômica, a fé também é gigante e perpassa tudo, fica impregnada no que vejo, mesmo que seja invisível. Busco e não desisto até encontrar o sol, o luar, flores, pássaros e borboletas.
E lá vou eu nesta engrenagem! As mangas arregaçadas para fazer meu rumo seguir. Todos os cuidados meticulosamente providenciados para tudo seguir bem. O mundo girando e a vida acontecendo. Cada minuto merecendo ser comemorado por ser sua existência a única certeza que temos.
Este é o meu maior rejúbilo. Abraçar o mundo cheio de imensos desafios e de suadas vitórias. Viver este mundo do jeito que o presente da vida me entregou. O hoje onde me encontro merece ser saudado – este é o meu lugar!
Confraternizo com todos os outros muito esperançosos e não menos incrédulos, bastante temerosos e também intrépidos seres humanos como eu. Pois, com equilíbrio na corda bamba entre a sanidade e o desvario, fazemos girar este estimulante planeta muito louco em que a vida habita.
Lindo texto, inspirador! Apesar de tudo que estamos vivendo não percamos a fé e a esperança.
Temos muito a refletir e buscar os melhores caminhos.