Sobre o entrevistado: Le Petit Prince é extraterrestre. Nasceu no pequeno asteroide B-612, em algum ponto da Via Láctea, no início dos anos 30. Em meados dessa mesma década, por razões insondáveis, abandonou seu asteroide e fez uma viagem cheia de novidades e aventuras, na qual aprendeu e ensinou, mas, principalmente, fez um grande amigo. O blog “Outros Olhares” tem a honra de entrevistá-lo, ainda que seja numa data da qual ele não gosta de recordar. Confessou-nos que sua tristeza não era motivo para recusar a entrevista, porque “se tu choras por ter perdido o sol, as lágrimas te impedirão de ver as estrelas”.
P. Como te sentes, hoje, dia 31 de julho?
R. Triste como em todos os anos nessa data. Em 1943, nesse dia, meu melhor amigo, Antoine, aquele que lhes contou minha história, desapareceu durante um voo no norte da África, durante a Segunda Guerra Mundial. Seu corpo nunca foi encontrado. Então, prefiro acreditar, que ele continua a voar e, que um dia, nos reencontraremos. O mistério persiste. Então “se o mistério é muito impressionante, a gente não ousa desobedecer”.
P. Por que resolveste abandonar seu asteroide? Não eras feliz lá?
R. Você se importa se eu chamar meu asteroide de planeta? É uma palavra mais bonita e que todos conhecem, tal qual a roupa ocidental do astrônomo turco. Era feliz, sim. Deixei-o porque precisava conhecer mais coisas e pessoas e por causa de uma rosa vaidosa. Eu tinha três vulcões e assistia o pôr do sol quantas vezes quisesse durante o dia. Bastava puxar a cadeira, assim como “para enxergar claro, bastar mudar a direção do olhar.”
P. E o que conheceu? Do que mais gostou?
R. Conheci seis planetas, todos parecidos com o meu. Pequeno e com um único habitante. Tinha o do rei, o do vaidoso, do bêbado, do homem de negócios, do acendedor de lampiões e o do geógrafo. Com todos eles aprendi o que fazer e o que não fazer, o que sentir e o que não sentir. Afinal, “aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam só; deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.”
P. De qual deles você mais gostou?
R. Do Acendedor de Lampiões. O único de quem poderia me tornar amigo, porque fazia uma coisa que não era só para si. Ou, talvez, porque “num mundo que se faz deserto, temos sede de encontrar um amigo”.
P. E na viagem completa, o que mais te impressionou?
R. A Terra, claro. Aqui conheci mais do que homens sós e planetas minúsculos. Conheci a raposa, a serpente, a montanha, outras rosas, muitas rosas, o guardador de chaves, o vendedor e o meu amigo, Antoine. A raposa, carente como eu, de um amigo, disse-me algo que acabou virando a minha marca na Terra (ou no Facebook, sei lá). Preferia ser lembrado por uma frase com menor responsabilidade, porque afinal sou um menino. Mas, ela insistiu: “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”
P. Arrependeu-se de ter deixado o seu planeta?
R. Não. Talvez tenha sido um pouco dura a jornada, mas “é preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas”. Sair do meu planeta deu-me a chance de flanar pelo firmamento porque “quando a gente anda sempre para frente, não pode mesmo ir longe.”
P. Você já conhecia o amor antes de chegar na Terra? Fale de sua rosa.
R. Prefiro não entrar neste assunto. Eu resumiria o meu “não caso” de amor com a rosa vaidosa em uma frase: ‘o a amor não consiste em olhar um para o outro, mas sim em olhar juntos para a mesma direção.”
P. Então desistiu do amor?
R. “Jamais, mon ami”. Uma vez, Antoine me disse: “É loucura jogar fora todas as chances de ser feliz porque uma tentativa não deu certo”. Disse mais: “a razão do amor é o amor; só os caminhos invisíveis do amor libertam os homens.”
P. Antoine falava muito?
R. Não. Passava todo tempo a consertar seu avião avariado. Falava menos ainda dele próprio. Dizia que “é bem mais difícil julgar a si mesmo do que julgar os outros; “se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio.” E, em uma de suas raras respostas sobre o livro que escreveu sobre nós, quando perguntaram-lhe o que significava o meu personagem, respondeu: “não é nada demais, é apenas o garoto que existe no meu coração”. E acrescentou: “todas as pessoas grandes foram um dia crianças – mas poucas se lembram disso.
P. Alguma pergunta deixou de ser feita e que você gostaria de comentar?
R. Vocês não perguntaram por que só eu vi o elefante e a jiboia do primeiro desenho do Antoine e o carneiro que estava na caixa do segundo desenho. Eu respondo: “só se vê bem com o coração; o essencial é invisível aos olhos”. E perguntaram pouco sobre amizade. Então, encerro dizendo o que diria a um amigo que prometesse me visitar: “se tu vens às quatro da tarde, desde as três começarei a ser feliz!
Maravilhosa homenagem ao Petit Prince, eterno para todas as idades, e ao Grande Antoine.
Presenteou-nos com excelente entrevista. Parabéns!!
Maravilhoso, um dos mais criativos do Blog. A frase ” tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas,” em si, é um aprendizado para muitos. Muitos desistem…
Adorei, parabéns pela criatividade!