POR: Claudia Alexandre

O 20 de novembro tem um grande significado para a luta contra o racismo no Brasil. É o Dia da Consciência Negra, data escolhida estrategicamente para lembrar a morte de um líder negro. Uma lembrança, das muitas apagadas da nossa história, sobre um personagem que ousou lutar e se eternizou, na memória de seus herdeiros, por enfrentar o sistema que representou um dos maiores crimes de lesa humanidade da nossa civilização. 

O nome de Zumbi dos Palmares está envolto em muitos significados, para além dos de violência e crueldade. É o símbolo escolhido para denunciar uma abolição considerada inacabada, porque ainda mantém às margens da sociedade pessoas negras, num país onde as desigualdades sociais e raciais estão no centro de uma enorme contradição nacional. 

Mas antes que me perguntem o que isso tem a ver com consciência negra seria importante registrar que não se trata de uma data em que negros pedem exclusividade para si, o que não seria difícil de justificar. Não se trata apenas de uma data para que negros repensem sua realidade no mundo e a forma como ainda enfrentam opressões, discriminações e preconceitos, por conta da cor da pele e pelo imaginário inferiorizante.  

Para além de realidades que estão postas, é sim um momento de pedir para que todos, nesse caso pessoas brancas, usem da própria consciência para rever os privilégios. Quem sabe ao rever suas vantagens,  pelo simples fato de terem a pele branca, possam questionar por que existe um grupo de pessoas, que há mais de 500 anos (se falarmos apenas no Brasil), ainda sofrem as consequências de um sistema escravista que se encerrou de forma desastrosa, há exatos 132 anos, com a chamada abolição da escravatura. 

Negros, negras e pessoas indígenas precisam respirar, porque suas vidas importam! 

Falar sobre racismo não aumenta o racismo, mas deixar de reconhecer que ele existe tem aumentado violências simbólicas e físicas que estruturam um abismo de desigualdades por aqui. Eis uma primeira forma de melhorar nossa consciência, revendo o quanto a ideia de que somos um “país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza…”, nos convenceu de que há uma falsa igualdade no Brasil “varonil”.

O Dia da Consciência Negra é o resultado louvável da luta de sujeitos de direitos, brigando por um lugar igualitário na sociedade. Assim, podemos rebater o discurso racista e condenável de que quem questiona porque não há o “dia da consciência branca”. 

Penso que maravilha seria se pessoas brancas tomassem uma consciência negra e deixassem de acreditar no mito da democracia racial, que preconizou que no Brasil brancos e negros vivem em igualdade, aliás, está aí um dos mais antigos modelos de fake News que ajudou a estruturar o racismo no Brasil.   

Num país de contradições e desigualdades não viveremos a democracia de fato se a consciência não for negra. Valeu Zumbi! 

 Claudia Alexandre é jornalista, apresentadora de Rádio e TV.  Mestre em Ciência da Religião (PUC-SP). Doutoranda em Ciência da Religião (PUC-SP), é pesquisadora de cultura afro-brasileira e ativista antirracista. É especialista na cultura dos sambas e das escolas de samba de São Paulo. É integrante da Cojira (Comissão dos Jornalistas pela Igualdade Racial de SP) e dos coletivos Acadêmicas do Samba e Mulheres do Axé do Brasil. É Dirigente umbandista e iniciada na nação nagô-vodunsi. Autora dos livros “Vai-Vai, o orgulho da Saracura”(Editora AB); “Vivaldo de Logunedé – Um pouco do Candomblé na Baixada Santista (Secult – Santos/SP); e “Exu e Ogum no Terreiro Sagrado do Samba – o candomblé da Vai-Vai) (Editora Aruanda e Griot Editora), que será lançado em 2021. É apresentadora do programa Papo de Bamba, na rádio on-line BR Brazil Show. Instagram:  @claualex16.

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