Abril é um mês que, nós brasileiros, temos muito do que lembrar. Comemorar já seria um exagero, exceto a justíssima celebração dos 80 anos do Rei, ocorrida nos último dia 19 e os 124 anos de Pixinguinha comemorado hoje, juntamente com o Dia Nacional do Choro. Também, não é o caso de chorar pelos acontecimentos de Abril. A História é o que é e o que dela contam os vencedores. Mas, não custa nada lembrar a esses vencedores que nem todo mundo acredita em fantasias.

Em minha vaidosa opinião, são três as principais efemérides históricas de Abril (não existe palavra mais feia que efeméride na Língua Portuguesa, mas dá uma preguiça de ir ao dicionário de sinônimos), ocorridas nos dias 1, 21 e 22 daquele mês. Continuando minha ilustre opinião, reafirmo que não há muito que comemorar. Senão vejamos.

A do dia primeiro nem sequer foi reconhecida como tal pelos próprios autores. Para não cair no ridículo e na infâmia, maiores que o fato em si, costumam dizer que o movimento foi em 31 de Março. Deslavada mentira. Na verdade, o golpe foi consumado na noite de 01 de Abril, quando o presidente do Congresso declarou vaga a Presidência da República. No entanto, Jango ainda estava no país e, poderia, se quisesse, enfrentar os golpistas, mas sob risco de uma guerra civil e a iminente intervenção americana já planejada e em andamento. A documentação completa está disponível nos arquivos da CIA e na biblioteca do Congresso americano, conforme ricamente demonstrado por Elio Gaspari em “A Ditadura Escancarada”, o primeiro volume de sua quintologia “Ilusões Armadas”.

 

A do dia 21 foi o enforcamento de um alferes ingênuo e boquirroto. Um pouco por ressentimento e outro tanto de vaidade, o alferes Xavier foi tragado para dentro de uma conspiração da elite mineira para não pagar impostos, nada diferente de hoje. Poetas, advogados, intelectuais, proprietários de escravos e oficiais de alta patente ─ a maioria deles, também, ricos mineradores ─ uniram-se com o intuito de criar a “República de Minas”, portanto, nada a ver com a independência do Brasil. O mito Tiradentes e o feriado nasceram a partir da República, que moldou a história e a figura do herói, quase o equiparando, fisicamente, a Jesus Cristo em seu martírio.  Apesar de todo o processo, conhecido como “Autos da Devassa” está fartamente documentado e disponível, desde sempre nos arquivos oficiais portugueses e mais recentemente na internet em www.siaapm.cultura.mg.gov.br , a criação do herói se deu mais em função de seu comportamento durante o processo do que em sua efetiva participação no movimento. Manteve-se altivo e sereno durante todos os interrogatórios, na leitura da sentença e no momento da execução. Não acusou ninguém, tampouco foi defendido pelos “amigos”, entre eles, Joaquim Silvério dos Reis, que fez delação premiada, injustamente chamada de traição pelos mais afoitos. Entre 1793 e 1873 ninguém ligou para o assunto. Dona Maria I, conhecida como “A Louca”, tal como Dona Damares, foi quem assinou a infame, macabra e detalhada sentença, que praticamente apagou os vestígios históricos da vida do Tiradentes, o que permitiu aos republicanos moldarem-no em razão de seus interesses.

O terceiro e último acontecimento de Abril ocorreu no dia 22 de Abril de 1500, a Invasão Portuguesa, que passou para a História, por influência da BBClixo e outras mídias vendidas da Europa, como “Descobrimento do Brasil”. Como descobrir algo que já existia há, pelo menos, 180 milhões de anos? Quando a Terra tinha um único supercontinente, a Pangéia, e este começou a se dividir, primeiro em dois ─ Laurásia e Gondwana ─ e depois na configuração que conhecemos hoje, o Brasil já existia. Nossos geólogos já identificaram formações da Era Pré Cambriana e dos Períodos Mezozóico, Cenozóico e Quaternário. Temos a mesma idade da Europa e nunca ouvi, ou li, alguém referir-se ao descobrimento da Inglaterra, da França ou da Alemanha. 

O máximo que poderíamos admitir é que os primeiros eurasianos, que atravessaram o estreito de Behring, há 12.000 anos, talvez tivessem descoberto uma nova terra. Nessa hipótese, a primeira brasileira seria Luzia, cujo crânio, datado de 11.000 anos, foi descoberto em Minas Gerais, na cidade de Pedro Leopoldo, terra do Dirceu Lopes, supercraque do Cruzeiro de Belo Horizonte. O problema é que Luzia tem traços negróides, ou seja, seus ancestrais teriam vindo da África. Essa constatação dá força à teoria de diferentes migrações, reforçada pelas descobertas da antropóloga brasileira Niede Guidon, que encontrou no Piauí, no deslumbrante sítio arqueológico da Pedra Furada, município de São Raimundo Nonato, restos de fogueira datados de 50.000 anos atrás. 

A Invasão Portuguesa, ainda que realizada por uma frota relativamente pequena e comandada por um fidalgo inexperiente, teve sucesso porque foi bem planejada e contou, ainda, com a divisão dos índios, alguns francamente colaboracionistas, estes sim, traidores da Pátria. Há muito tempo, Portugal almejava aumentar o nível moral e educacional de sua população e a solução encontrada foi exportar os indesejáveis. Não foi difícil encontrar o lugar ideal: Pindorama. Sol de rachar, praias lindas, terras boas, mulheres bonitas e homens fortes e saudáveis, com alimentação equilibrada e com o estranho hábito de tomar banhos todos os dias, às vezes, mais de um. Pensaram os portugueses, que deixados naquele Paraíso, a escória lusitana poderia civilizar-se e voltar para a terrinha em melhores condições. Seria uma espécie de colônia penal sem carcereiros.

Acabaram ficando até hoje, mas parece que não deu muito certo nem aqui, nem lá. Isso é história para se contar em outra ocasião.

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