A notícia econômica da semana, infelizmente, ainda não foi a liberação da primeira parcela da nova rodada do auxílio emergencial. Menor e por menos tempo, ainda assim, esse dinheiro é fundamental para atender carências básicas de grande parte da população. Estamos nos acostumando a ver, nos telejornais, cenas de geladeiras vazias, filas para recebimento de cestas básicas e famílias inteiras em busca da única refeição do dia. Não podemos nos acostumar a isso. Isso significaria tirar dos carentes a dignidade e dos afortunados, a humanidade.
A notícia da semana foi a alta da SELIC de 2% para 2,75% determinada pelo Banco Central. Como já comentamos, a SELIC é a taxa de juros básica da economia e é um referencial para todos os financiamentos e investimentos. Com a alta da SELIC, todas as taxas de juros tendem a subir, exceto aquelas das operações já contratadas. De um lado sobem as taxas de juros do mercado, sejam elas de financiamento, sejam as taxas de aplicações em renda fixa, aqui incluída a caderneta de poupança. Do outro lado sobem as taxas de financiamento de bens móveis e imóveis, maquinário e capital de giro para empresas, empréstimos para pessoas físicas e jurídicas, parcelamento de cartões de crédito, entre outros.
Esse é o papel do Banco Central: regular a oferta de dinheiro e crédito na economia para controlar a inflação, sem, contudo, comprometer o crescimento econômico. Quando a inflação está sob controle e a economia capengando, o BC baixa a taxa de juros para injetar dinheiro e crédito suficientes para revigorar a economia. Foi o que aconteceu entre 2015 e 2020. Por outro lado, quando há risco de aumento da inflação, o BC aumenta a taxa SELIC para conter a demanda de bens e serviços. Ë claro que esse freio na demanda trava o crescimento da economia. É o que está acontecendo agora com a recente alta da SELIC. Fica uma dúvida na cabeça das pessoas: mas nossa economia já estava bastante debilitada. Aumentar a SELIC não tornará isso ainda pior?
Sim, mas a inflação continua sendo a grande preocupação de todos os governos. Inflação alta significa perda de valor da moeda, desconfiança dos investidores, desequilíbrios nos mercados de mercadorias e de moedas e têm impacto maior entre os mais pobres, porque estes não têm as sobras, que permitem aos mais ricos fazer investimentos e proteger, pelo menos uma parte, de seus ativos. Os rentistas, aqueles que vivem de aplicações no mercado financeiro, comemoram e soltam rojões a cada alta da SELIC.
O Banco Central agiu certo? Sim. A inflação alta já é uma realidade (mais de 5% nos últimos 12 meses) e precisa ser contida porque nós, os brasileiros de maior tempo de vida, sabemos que a partir de um dado momento perde-se o controle e, como se tivesse vida própria, a inflação cresce a cada mês devido às expectativas pessimistas dos agentes econômicos. Acreditando que a inflação vai subir no período seguinte, os empresários antecipam os aumentos de preços e esse processo se estende por toda a cadeia produtiva.
O momento exige cautela ao assumir dívidas, e, quando possível, reforço em seus investimentos, priorizando a segurança, a liquidez e a rentabilidade acima da inflação. Não é uma tarefa fácil. A poupança vai continuar perdendo da inflação. God save the Brazil.