Frida completará seus 15 anos, mas parecia uma menininha. Gostava de brincar com os coleguinhas perto de sua casa, gostava de ler e ajudar a mãe nos afazeres domésticos.
Dias depois de seu aniversário, o pai a chamou e disse que ela iria se casar. Casar ? Por que? com quem ? Ela nunca havia pensado no assunto, nunca sequer flertara.
“Prometi você ao Franz, o melhor amigo de seu irmão. Já dei minha palavra”, foi o que o pai lhe disse.
Como deu a palavra? Não estou preparada, não gosto dele, não quero, ela protestou, tentando enfrentar o pai. Mas ela foi ameaçada de uma forma muito brutal, tanto pelo pai, como pelo irmão, que a puseram pra fora de casa à noite, e disseram-lhe que poderia entrar somente quando desse o sim.
Era inverno, a noite estava muito fria e ela, sem agasalho ou cobertor, sentou-se junto ao poço para chorar. Várias vezes bateu na porta pedindo a misericórdia do pai, que continuava irredutível. Enregelada, às duas horas da madrugada ela cedeu para não morrer: se casaria com Franz. O pai abriu a porta e ela deitou-se chorando sob o cobertor.
No outro dia conversou com Franz e disse que não o amava, que se casaria por obrigação. O rapaz não deu atenção e disse não se importar, ele queria se casar assim mesmo.
Prepararam a festa e chamaram o pastor para a cerimônia. Ao fazerem os votos teve de mentir, pois sua vontade não era livre.
Após o casamento foram para casa. No quarto ela sentou-se na cama e ele, completamente nu, mandou que ela tirasse a roupa.
Sua noite de núpcias não foi, de forma alguma, no mínimo carinhosa, porque amor não existia ali.
Franz era um homem bruto, grosseiro e nunca ofereceu a ela o carinho de que precisava. Mas Frida cumpria com suas obrigações: fazia todo o serviço da casa, alimentava os animais, cuidava da horta e cuidava dos filhos. Franz, por outro lado, era um homem ruim, sempre a espancava e espancava também os filhos, eles viviam em um ambiente de medo.
Os filhos, assim que atingiam seus 15 anos, davam um jeito de sair de casa pois não toleravam as surras e não suportavam ver a mãe apanhando e sofrendo. Somente um deles, Augusto, permaneceu sempre ao seu lado.
Um dia, Franz chegou em casa e não encontrou a comida pronta. Estava nervoso com alguma outra coisa e começou bater em Frida com as correias do freio do cavalo. Augusto o enfrentou e apanhou também. Em determinado momento, o jovem conseguiu arrancar as correias das mãos do pai e o derrubou. Pegou o machado e somente não o matou porque Frida o impediu.
Augusto pegou suas roupas e saiu, foi embora. Foi para a cidade, arrumou um emprego e dias depois voltou à fazenda para buscar a mãe para morar com ele.
Frida saiu do inferno. No pequeno céu, junto ao filho, ela rejuvenescia, passou a viver mais, fez amizades e começou a sorrir.
Certo dia, quando cuidava do jardim, apareceu Franz, pediu perdão e queria que ela voltasse. Mas voltar para que? O que ele teria para lhe oferecer? Trabalho exaustivo e correias de freio de cavalo para deixá-la marcada?”
Ela não quis voltar. Franz chorou e voltou sozinho para casa. Já não era altivo e parecia meio encurvado. Meses depois adoeceu e morreu, seu cadáver já estava se decompondo quando foi encontrado.
Há quem diga que a vida era assim, que era normal a mulher ser tratada desse modo, que era normal pais e mães aplicarem pesadas surras em seus filhos, sendo esse o modo de educar.
Essa não é uma simples história. Ela é real, com os nomes trocados, e acontece todos os dias, em algum lugar.
Não, a violência nunca pode ser justificada. Viva a Lei Maria da Penha!
Salmon Paiva – São José dos Campos