A alegria foi embora…
O mundo inteiro está sendo ameaçado por essa epidemia, a Covid 19, que já levou tantas vidas. Sofremos pelas incontáveis famílias que perderam seus entes queridos, mas nunca imaginamos que essa situação pudesse se aproximar tanto.
Porém, em outubro último, essa grande tristeza chegou até nós, atingiu a família, ou melhor, toda a nossa cidade.
Meu tio Minervino Osório, com 94 anos de idade, o último irmão vivo do meu pai, também foi infectado e não resistiu.
Um homem simples, filho adotivo de Pesqueira, onde chegou com 15 anos de idade. Teve onze filhos, dez deles vivos, formou engenheiro, médico, professor.
Trabalhou por 35 anos nas Indústrias Alimentícias Carlos de Brito, mais conhecida como Fábrica Peixe, aquela mesma da goibada e da massa de tomate.
Foi funcionário exemplar, dedicado, amigo de todos, treinador do time União Peixe, mas o que mais marcou em sua longa trajetória, foi sua alegria e seu gosto pela cultura.
Minervino Osório nunca foi à escola, era um autodidata. Escreveu dois livros: o primeiro “Eu, a Fábrica Peixe e Pesqueira” onde relata sua vida e experiências na empresa onde trabalhou por tanto tempo e que com muitas lágrimas e tristeza viu acabar. No segundo livro “Pesqueira, seguindo em frente” ele relata um pouco da história da sua cidade.
Era músico, compositor, dramaturgo, ator, poeta, integrava a Sociedade dos Poetas e Escritores de Pesqueira, e foi o
criador do maior “Casamento Matuto a Cavalos do Brasil”, que se tornou tradição nas festas de São João de Pesqueira.
E era assim: todos os anos, no dia 23 de junho, os cavaleiros “fantasiados de matuto” percorriam as ruas da cidade, de casa em casa, e iam até a calçada da matriz, onde os casamentos eram realizados. Segundo ele, o casamento matuto foi a maneira que encontrou para matar a saudade de sua terra natal.
Difícil agora imaginar o nosso São João sem a presença de Minervino Osório, sem as cavalgadas que ele conduzia e que percorriam também as cidades da região.
Difícil imaginar a nossa vida sem esse homem, um ícone da cultura popular da cidade, um homem que se tornou personagem, alegre, amoroso, defensor dos costumes e tradições da Pesqueira, um homem que representava a verdadeira essência do homem do campo.
Meu nome é Ana Célia e moro na cidade de Pesqueira, Pernambuco.