Nos meus tempos do ensino primário havia uma lição sobre os ditados populares. A professora citava alguns deles, explicava o que queriam dizer e depois pedia uma redação em que eles fossem aplicados. Naquela idade, muitos de nós ainda não tínhamos noção do que era uma metáfora como figura de linguagem e, também, faltava-nos capacidade de abstração. Assim, quem escolhia como tema “ quem com ferro fere, com ferro será ferido”, em geral, narrava uma briga, na qual alguém levava um golpe com uma barra de ferro, ia à sua casa e voltava para revidar o golpe com outra barra de ferro, naturalmente. Da mesma forma, narravam-se situações em que na caça aos passarinhos, comuns na época, deixávamos escapar um passarinho na ânsia de capturar outro. Era assim que pensávamos e escrevíamos. Textos e ideias simplórias como nos discursos do Presidente.
E o que tem isso a ver com nosso dinheiro? Muito, quando falamos em investimentos sob a forma de aplicações financeiras ou mesmo em nossas compras mais vultosas. Vamos relembrar dois ditados do tempo de nossos tataravós: “ quem tudo quer nada tem” e aquele outro, já lembrado aqui, “mais vale um passarinho na mão que dois voando”. O assunto da moda, todos sabemos, é fraude financeira. Até falamos disso aqui na semana passada. Entretanto, foca-se muito nos golpes provenientes do furto ou roubo de dados, que possibilitam transferências fraudulentas, falsos empréstimos e utilização criminosa dos cartões de crédito. O que pouco se comenta, por vergonha e constrangimento, são os golpes que contam com o conhecimento e a participação da vítima. Participação motivada, na maioria das vezes, mais por ganância do que ignorância.
O que não falta nas redes são anúncios de ofertas imperdíveis. Bens móveis e imóveis com descontos generosos, fantásticas oportunidades de negócios e empregos, aplicações financeiras com alto rendimento e sem risco, entre outras. Ao se deparar com esses anúncios, ocorre-me a lembrança do Padre Quevedo, famoso nos anos 80 e 90 com o seu bordão: “ ISSO NON ECZISTE “. Mas, as pessoas querem acreditar. Mais que isso, precisam acreditar. E, por essas razões, tornam-se presas fáceis não apenas para golpistas, como também para empresas ditas sérias, como bancos, lojas, operadoras de planos de saúde, etc. Claro, que estas últimas não costumam praticar crimes e os prejuízos que causam não são da magnitude daqueles causados por criminosos profissionais. Um bom exemplo de um dano não criminoso e de menor potencial de prejuízo são as liquidações tipo “ Black Friday”, a semana em que tudo é vendido pela metade do dobro.
Os maiores estragos vêm das quadrilhas especializadas. Gente que, entre outras ações ilícitas, opera as conhecidas “pirâmides financeiras”, feitas para seduzir incautos gananciosos. Oferecem à vítima a possibilidade de aplicar determinado valor com promessa de rendimento bastante superior às taxas praticadas no mercado financeiro formal. Por exemplo, nos dias de hoje, uma taxa superior a 1% ao mês, pagos mensalmente e sem riscos. O golpe é tão lucrativo, para os falsários, que neste exemplo, o investidor poderia receber, por longo tempo, o rendimento prometido. Acreditaria estar no melhor dos mundos, até que cessam os pagamentos e de uma hora para a outra desaparece, junto com os estelionatários, o valor principal investido.
Existe golpe mais antigo? Quantas vezes nós já ouvimos falar dele? É fácil responder a essas duas perguntas. No entanto, milhares de pessoas, homens e mulheres, ricas e pobres, bem ou mal informadas caem nessa armadilha todos os dias. Por vezes, levadas até por pessoas conhecidas, de boa ou má fé. As de boa fé, são também vítimas, que ainda não levaram o tombo. Por que isso ocorre, no Brasil e no mundo inteiro? Pode ser ignorância ? Pode sim, Afinal, quem liga para a Educação Financeira? Quase ninguém. Assunto chato, limitador de nossos sonhos. Ainda assim, a principal razão que torna a vítima conivente com o golpe é a ganância. Querer tudo, de forma rápida e sem riscos (quem tudo quer, nada tem) e não se contentar com o rendimento seguro e gradual (mais vale um passarinho na mão que dois voando).
Fique de olho. Desconfie de ofertas e promoções imperdíveis. Pergunte-se: se o negócio é tão bom, por que estão me oferecendo? Não seria mais lógico ofertar a parentes e amigos. Não se deixe enganar. O seguro morreu de velho.