Escrevi este texto, originalmente, num momento de tristeza e dor. Mas, se existe algo que, absolutamente, não combina com seus personagens, são exatamente esses sentimentos. Por isso, resolvi reescrevê-lo, com pequenos acréscimos e alterações, que tentam mostrar um pouco melhor a grandeza de alma e coração dessas duas enormes presenças em minha vida e de tantas outras pessoas. Não estranhem o texto ser bem leve, informal e sem preocupação de estilo. Afinal, nenhum texto pode contrariar a mensagem de seus personagens.

A gente cresceu achando que Tio Dú e Tio Durão eram imortais. Que poderíamos contar para sempre com a inteligência e alegria de um e a segurança e a generosidade do outro. Um nos ensinava a pensar, outro nos ensinava a fazer. Ambos faziam isso brincando, o que tornava muito mais fácil e alegre qualquer aprendizado. Nada de broncas; não precisavam. Nunca foram desobedecidos, porque não pediam obediência. Só nos cobravam o que ensinavam: honestidade, bondade e valorização do estudo e das pessoas. 

 

Pareciam diferentes ao olhar de quem não os conhecia. Puro engano. Além de serem grandes amigos, apesar de cunhados…rsrsrsr, do gosto pelo futebol e pela vida, tinham muito em comum. Não gostavam de mandar, não conheciam a vaidade e não tinham a menor ideia do significado das palavras ambição e ganância. Passaram pela vida sem prender-se a nada que não fosse o afeto das pessoas que amavam. Eram admirados e respeitados, mas mal se davam conta disso. Só lhes importava estar sempre à disposição de quem precisasse, fossem parentes, amigos, conhecidos ou desconhecidos.

As diferenças entre eles existiam sim, mas só tornavam mais engraçada e gostosa a convivência entre eles e com eles. Palmeiras x Corinthians; Bahia x Minas Gerais; Castro Alves x Flamengo; Sinuca x Pesca, tudo era motivo de “discussões”, que terminavam em risadas e cervejas. Um, a par de uma inteligência privilegiada, era gozador, irônico e inventivo até o limite da credulidade de suas “vítimas”. O outro era sério, compenetrado em suas tarefas e não era dado a inventar estórias, mas gostava de exagerar, por pura gozação, no tamanho dos peixes que pescava. Era um exímio pescador, porém seu negócio eram os rios. Sua única experiência em alto mar, na qual estive presente, merece uma crônica em separado, de tão hilária que foi.

Por falar em estória, há alguns anos, escrevi uma, quase verídica, em que os dois eram os personagens principais. Não é possível reproduzi-la aqui, por isso deixo o link ─  Coisas de São Miguel :: São Paulo – Minha Cidade (saopaulominhacidade.com.br) ─ e uma correção. Não é verdade que tenham ficado cinco anos sem se falar após o episódio. Foi invenção minha para dar um final mais engraçado ao texto. 

Tio Du partiu primeiro. Mais recentemente, o Tio Durão. Imagino a felicidade de minha mãe ao revê-los. Pura alegria e broncas, como era seu hábito quando eles demoravam a aparecer em casa. “Vito, seu moleque, onde andava que não veio colher meus abacates?” ou “Dú, toma juízo e pare de atazanar esses corintianos, você ainda vai acabar apanhando na rua”. 

Uma coisa é certa. O céu anda cheio de festas. Muito bem organizadas por um, muito bem realizadas pelo outro. 

Comentários

0 0 votos
Article Rating
Se inscrever
Notificar para
guest
1 Comentário
Feedbacks em linha
Ver todos os comentários
Valquiria
Valquiria
2 anos atrás

Seu pai @Wilson foi exemplo de pai e esposo um homem de coração bom

1
0
Adoraria seus pensamentos, por favor, comente.x
()
x

Assine nossa Newsletter!

[newsletter]