Quase 70% dos brasileiros têm mais de 30% de seu orçamento mensal comprometido com o pagamento de parcelas de dívidas em dia ou em atraso. Sem dúvida, uma fonte permanente de stress e desalento para aqueles, cuja vida resume-se a trabalhar apenas para pagar as contas e quitar dívidas. Claro que este não é o caso das pessoas que mantém o controle de suas dívidas dentro de seu orçamento, que conseguem efetuar o pagamento das parcelas em dia e evitam fazer dívidas que não acrescentem valor ao seu patrimônio.
De modo bastante objetivo, podemos dizer que a dívida em si não é um problema. Ao contrário, pode ser a melhor solução para alavancar um negócio, uma carreira ou, por vezes, resolver um problema imediato e imprevisto. O problema está na inadimplência, ou seja, a incapacidade de honrar a obrigação assumida. Há inúmeras razões que levam uma pessoa ou uma família à inadimplência. A redução de renda deveria ser a mais comum, seja por desemprego, queda no ritmo do negócio ou afastamento por problemas de saúde, entre outros.
Entretanto, não é a redução de renda a principal e maior causa da inadimplência. A maioria dos inadimplentes, simplesmente, assumiu obrigações superiores à sua capacidade de gerar receitas. A inadimplência não é exclusividade de desempregados (as), aposentados (as) e empresários (as) com dificuldades. É muito provável que a pessoa inadimplente tenha descumprido uma das regras de ouro no manejo das finanças pessoais e familiares: a regra 50/30/20. Por essa regra, o ideal é que reservemos 50% de nossa renda para os gastos essenciais; 30% para gastos acessórios ligados à qualidade e ao estilo de vida e 20% para formação de reserva emergencial e para o futuro.
Admitamos, porém, que não se pensou, previamente, em nada disso e a inadimplência já está instalada em sua vida. É hora de agir para combatê-la. Nem é preciso repetir que haverá necessidade de planejamento e sacrifícios. O primeiro passo do planejamento é tomar conhecimento da real situação e das causas que levaram a ela. Não tente se enganar com justificativas ilusórias, do tipo “ganho pouco”, “aconteceu um imprevisto”, “a vida está cara”, etc. Tudo isso pode ser verdade, mas não resolve a situação e, se você continuar pensando assim, voltará a se endividar tão logo resolva a situação do momento, se resolver.
Em alguns casos, será necessário cortar na carne. Literal e figuradamente. Cortar gastos para fazer sobrar dinheiro destinado a pagar as dívidas em atraso. Primeiro, aquelas que cobram juros maiores como as do cheque especial e do cartão de crédito. Depois aquelas que podem afetar necessidades básicas como contas de luz, água e gás, por exemplo. Na sequência, todas as dívidas com juros, até que se chegue àquelas de menor valor e menor custo em termos de juros.
Felizmente, há, nos dias de hoje, um grande espaço e movimento para renegociação de dívidas. Bancos, financeiras, serviços de proteção ao crédito e empresas estão dispostos a conceder descontos, baixar taxas de juros e aumentar o parcelamento para permitir que o consumidor inadimplente possa limpar seu nome, restaurar seu crédito e voltar a comprar e consumir. É de interesse de todos ─ governo, bancos, empresas e consumidores ─, que a economia volte a movimentar-se em maior velocidade e volume de negócios.
Por fim, esteja ciente de que esse processo deve ser, também, um aprendizado para o futuro. Mais que isso, uma oportunidade para adequar seu estilo de vida à realidade e, principalmente, refazer sua estratégia de gestão da vida financeira. É um fato incontestável de que devemos, sempre quando possível e lícito, buscar o aumento da renda, mas não podemos perder de vista que nossos gastos têm que estar, sempre e de forma compulsória, alinhados com ela.
A educação financeira deve começar em casa e fazer parte, possivelmente, do currículo escolar. Há o devedor compulsivo que não consegue viver sem dever. COMPRA PORQUE VÊ E NÃO PORQUE PRECISA. COMPRA fora de hora, não sabe esperar. Dever sem motivo justificável pode ser um problema de saúde.