Quando eu era criança, a Semana Santa era um período para ser guardado. Começava com o domingo de Ramos culminando com O domingo de Páscoa, comemorado em família. Um ensinamento passado pelo meu pai, um católico convicto, não praticante, mas extremamente temente a Deus.
Lembro-me que a “Sexta-feira da Paixão” era o ponto alto da Semana Santa. Dia de jejum, silêncio, oração e muito respeito, sem espaço até para as mais inocentes brincadeiras de crianças.
Meu pai não permitia que ligássemos a televisão, não podíamos ouvir rádio, tínhamos que conversar em voz baixa e carne não era um alimento permitido em casa nesta semana. Aliás, poderíamos sim ouvir uma rádio, a Joven Pan AM, que tocava música sacra o dia inteiro.
Parecia que qualquer atitude que demonstrasse alegria na sexta-feira, soava como um desrespeito para com o significado daquele feriado religioso, a crucificação de filho de Deus.
Era difícil para nós, até porque minha mãe era evangélica, e os seus ensinamentos eram outros. Para ela, a Páscoa era o dia a ser celebrado e, portanto, ela não exigia de nós esses “sacrifícios”, não era o que ela acreditava, embora respeitasse as ordens do meu pai e a sua crença.
Mas mesmo sem entender o porquê desses dogmas ou costumes, nós aprendemos a respeitá-los.
A verdade
Para muitos cristãos, a Sexta-Feira Santa é a data mais importante do cristianismo, mais importante até do que o próprio nascimento de Jesus Cristo. E, ao redor do mundo, a data é celebrada de muitas maneiras, que variam de acordo com a tradição cultural e religiosa de cada país, sempre com o mesmo significado: o martírio, morte e ressurreição de Cristo, é uma data reservada para a prática da abstinência.
A Páscoa, por sua vez, já era celebrada no Antigo Testamento, e sua finalidade inicial era celebrar a libertação do povo de Israel da escravidão do Egito. Depois da crucificação e da ressureição de Cristo houve um ressignificado para esse dia.
A realidade
Apesar de cristã, não sou praticante. Respeito o que me foi ensinado, mesmo que não pratique da maneira que se espera.
No entanto, o que mais se vê, nos dias de hoje, são pessoas esperando pela Semana Santa, não pelo seu significado, mas para ter um feriado prolongado, para viajar.
Também a Páscoa se transformou em uma data puramente comercial e o que se vê são os pais ensinando aos filhos que é o dia de ganhar ovos de chocolate.
Num momento de tanta fragilidade emocional e espiritual quem sabe neste ano, as pessoas consigam se voltar mais para o real sentido da Sexta-feira da Paixão e do Domingo de Pascoa – martírio, morte e ressurreição
Está faltando religiosidade…