POR ROGÉRIO BRASIL
Desde muito cedo, na minha infância, gosto de ler ficção científica. Li muitos autores, como Isaac Asimov (Eu, Robô), Arthur C. Clarke (2001: Uma Odisseia no Espaço), Robert Silverberg (Mundos Fechados) e Philip K. Dick ( Blade Runner, O Vingador do Futuro, O Homem Duplo).
Em muitos textos, encontrava uma perspectiva positiva sobre o homem e a humanidade, a construção de uma sociedade mais justa, mais integrada, sem diferenças de raças, credos, cores, opções sexuais, enfim, uma sociedade que procurava a felicidade e o progresso, sem agredir a natureza e o próprio homem. Eram UTOPIAS, sonhos que podiam ser sonhados e construídos coletivamente.
Em outros tantos, encontrava o pesadelo coletivo, a DISTOPIA, um futuro aterrador onde o homem oprimia o homem, não respeitava e destruía a natureza, onde o “ter dinheiro e poder” tinha absoluta preponderância sobre a vida de pessoas, animais, da vida, enfim.
Assim, com a cabeça na Lua (e muito além), fui tentar entender essa tal de humanidade que precisa viver em sociedade, mas que, parece, desaprendeu a fazê-lo. Fui procurar as VERDADES, aqui na Terra mesmo. Estudei e li, durante muitos anos, filosofia, sociologia, antropologia, economia, política, etc ( Marx, Durkheim, Weber, Memmi, Foucault, etc. ).
Tudo tentando entender, pois acredito piamente que somente compreendendo e aprofundando o conhecimento é que podemos tomar atitudes sensatas, que não sejam baseadas em fantasias, boatos e mentiras.
E, de repente, encontro pessoas que pensam como eu, e que, estranhamente, eram de ideologias, fé, classes, cores e jeitos diferentes, mas tinham em comum um sonho, e melhor, um sonho que podia ser sonhado e construído coletivamente.
Assim, depois de muita luta (30 anos praticamente), quase se conquista isso aqui, sim, aqui, no Brasil. A fome é praticamente extinta, existe pleno emprego (um inferno conseguir um encanador ou pedreiro, estavam todos empregados), a educação decola com a criação e a ampliação de institutos e universidades federais. O churrasco e a gelada do final de semana viram lei. Quase uma Utopia, perfeita. Não, perfeita não, imperfeita, cheia de falhas e defeitos, de concessões ao antigo, mas cheia de avanços, que infantilmente achávamos que não poderiam ser revertidos.
Mas, eis que chega a roda viva, cheia de mentiras, engodos, falsas promessas, principalmente, incutindo o medo, o medo de um pelo outro, o medo do diferente, o medo do vizinho, o medo do medo.
E a quase Utopia vira plena Distopia, distorcendo a verdade, destruindo a natureza, destruindo a igualdade, destruindo a educação, destruindo a confiança, destruindo a vida, anestesiando corações e mentes, fazendo com que o genocídio de mais de 250.000 pessoas seja banal, corriqueiro.
Viva o dinheiro! A vida não vale NADA! Compre mais armas.
Aí me lembro lá da infância e da adolescência, quando lia a ficção, e fico pasmo ao ver que houve uma OPÇÃO PELA DISTOPIA, pelo pesadelo, pelo malfeito. Não existe autor, seja de obra científica ou de ficção, que consiga entender uma alma que prefere a destruição à criação.
Mas, ainda sonho UTOPIAS, utopias de igualdade, progresso, felicidade e irmandade, tal qual nos livros. Quem sabe um dia a gente consiga, todos juntos, restaurar um pouco dessa felicidade em nossas vidas.
Rogério Brasil é Sociólogo, ex-técnico da Fundação Projeto Rondon, Assessor na Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotivos, Diretor Técnico do IJSN – Instituto Jones dos Santos Neves (E.S.), Gerente de Inovação Tecnológica na SECT – Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia (E.S.), Consultor do e para o SEBRAE, SENAI, SESI.
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