Já faz alguns anos que a minha mãe Helena nos deixou.
Ela era uma mulher ativa, tinha uma lojinha de armarinhos, não gostava de ficar parada e adorava cozinhar. Alias, três coisas me lembram muito a minha mãe: comida, flores e karaokê.
Posso dizer que eu me pareço com ela apenas na fisionomia e por gostar de cantar, mas cozinhar e cuidar de plantas como ela sempre fez, não era pra mim.
Dizem que o ato de cozinhar é um ato de amor, que é preciso gostar, se dedicar, ser paciente. Para mim, cozinhar sempre foi apenas um meio de sobrevivência, cozinhar para não morrer de fome.
Passei todos esses anos, desde que me casei, e olha que faz tempo, pensando desta forma, ao contrário da minha mãe, que se dedicava a tudo com muito amor.
Até para fazer aquele arroz japonês, que não tem técnica alguma, pois só vai água e arroz, o dela era melhor e nunca esqueço quando ela me falava: “Come que está quentinho”. Era uma delícia…que saudades!
Minha mãe gostava de festas, de estar com as pessoas, e ela se reunia todas as sextas feiras no Kai Kan, uma Associação de Cultura Japonesa de São Miguel Paulista, para treinar karaokê.
Ela ajudava a organizar tudo e ficava, às vezes, até o dia amanhecer.
Nesses encontros todos os participantes levavam um pratinho de salgados ou doces, para o café da manhã.
Uma certa vez ela levou um pratinho de “guioza”, tradicional pastel japonês, e estava tão bom, que todos queriam a receita.
Assim que chegou em casa ela me pediu para digitar a receita e fazer várias cópias para distribuir para as amigas em sua próxima reunião.
E agora que mamãe não está mais com a gente me lembrei que a única receita que ela deixou foi esta, do tal “guioza”, só porque digitei e ficou gravado no meu computador.
Lembro com tristeza quantas coisas gostosas ela fazia e não aproveitei a oportunidade para aprender. Tem muitas comidas que nunca mais experimentei, pois só ela sabia fazer.
Atualmente, tenho refletido bastante sobre cozinhar e cuidar das flores, estou me dedicando mais. Esperar com paciência o pão crescer, sovar com mais amor e chegar a uma conclusão: se não tiver estes principais ingredientes – dedicação, paciência e amor, nenhuma receita sairá boa.
Neuza Oguihara
São Bernardo do Campo