Saiu a inflação de Dezembro e com isso já podemos saber a inflação do ano de 2020. Pressionada pela alta dos preços dos alimentos e pela alta do dólar, a inflação do ano passado atingiu a taxa de 4,52%. Uma taxa alta se considerarmos que os preços dos serviços, praticamente, ficaram estagnados em 2020 por conta da queda da demanda.
Há algumas causas que explicam o aumento da inflação: o auxílio emergencial aumentou fortemente a renda das famílias muito pobres, em especial, aquelas beneficiárias do programa Bolsa Família. Esse aumento de renda, corretamente, foi direcionado para aquisição de alimentos. Da mesma forma, a demanda chinesa, combinada com o dólar forte, direcionou boa parte da produção agrícola para a exportação. Com o aumento da demanda e a queda na oferta para o mercado interno, os preços dispararam.
E o que aconteceu com nossos investimentos? Muitas coisas, mas vamos tratar daquela que mais nos atinge. Por boas razões , nós, os brasileiros, ainda optamos, majoritariamente, por aplicações em renda fixa. Pela segurança, pela liquidez e pela lembrança de um passado recente, quando o Brasil era conhecido como o Paraíso da renda fixa. Brasileiros e estrangeiros ganharam muito dinheiro na época dos juros altos. Parece que esse tempo acabou ou, pelo menos, não deve voltar tão cedo.
Por causa da baixa na SELIC, que fechou o ano em 2% (a primeira vez em décadas que ficou abaixo da inflação), a poupança rendeu raquíticos 2,11% ao ano. O CDI, outro referencial da renda fixa, rendeu meros 2,77% no ano. Em suma, quem aplicou em poupança ou aplicações atreladas ao CDI, como fundos DI e CDBs, perdeu dinheiro. Já falamos disso aqui: qualquer aplicação que renda menos que a inflação significa perda de valor real do capital aplicado.
Salvaram-se aqueles que estavam (e continuaram) no Tesouro Direto pós fixado ou tinham, na caderneta de poupança, depósitos anteriores a Maio de 1992. Tesouro Direto pós fixado significa aplicação que paga IPCA (inflação) acrescida de uma taxa de juros, ou seja, seu rendimento será , sempre, acima da inflação. Atenção: a regra não vale para quem resgata do Tesouro Direto antes do vencimento combinado. Nesse caso tanto pode se ganhar como perder. Depende do movimento da taxa de juros no momento do resgate.
E para 2021? O que fazer com nosso dinheiro? Se você gostar e puder correr riscos, coloque uma parte de seus investimentos em aplicações menos conservadoras (fundos multimercados, fundos imobiliários, ações ou fundo de ações entre outras). Há possibilidade de bons rendimentos, mas os riscos existem e não devem ser subestimados. Quanto menos apetite, disponibilidade e vocação para o risco você tiver, menor deve ser sua parcela de investimentos dessa natureza.
Os ganhos na renda fixa acabaram? Não. Até porque a maior parte da população vai continuar na renda fixa e as condições que trouxeram perdas em 2020 podem não se repetir em 2021. Espera-se, por exemplo, uma inflação menor e uma SELIC maior, o cenário ideal para a renda fixa. Entretanto, são previsões e mesmo que aconteçam, ninguém pode garantir que a diferença entre elas será atraente para os investidores.
Por fim, a recomendação é a de sempre: busque informação, acompanhe a evolução da SELIC e da inflação, não se deixe trair pela ganância e respeite seu momento de vida, assim como seu perfil de investidor. Jovens podem e devem buscar mais rentabilidade com algum risco. Pessoas maduras precisam, no mínimo, preservar o capital que conseguiu acumular e não precisam, nem devem, expor-se a riscos demasiados ou desnecessários. Boa sorte com seu dinheiro em 2021.