A vida que vivemos está bastante vinculada ao ritmo da terra, aos ciclos ambientais. Invariavelmente, o sol se põe, vem a noite que também vai embora para o surgimento de um novo dia. As marés dos oceanos aproximam ou afastam o mar, mudando seus limites, se revezando a cada semana. As estações do ano determinam temperaturas, as chuvas, a luz, a cada quatro meses. E assim, muitos ciclos vão se desenrolando e se repetindo, determinando muitos dos acontecimentos a que estamos expostos. 

Os ciclos biológicos sofrem influência dos ritmos da Terra e as espécies vão adaptando seu comportamento, buscando a sobrevivência. Assim, plantas perdem suas folhas ou germinam em épocas diferentes, animais migram ou se acasalam em determinados períodos, a busca pelo alimento pode ser mais bem sucedida em um determinado momento do dia.

Esse fenômeno, que se repete com bastante regularidade, acontece em todas as espécies e, o ser humano, não é exceção. Normalmente descansa e dorme à noite, trabalha ou estuda durante o dia, tem uma média de três refeições. Entretanto, poucos de nós consegue perceber que há uma rotina interna de cada organismo, um ritmo próprio. Para ficar mais claro, quantas vezes comentamos “eu funciono melhor pela manhã” – “mas eu prefiro trabalhar à noite”. Ou ainda, que a disposição e a qualidade para uma atividade específica, melhora ou piora em determinados momentos. Há ainda os que detestam o tal ‘horário de verão’, quando os relógios são adiantados em uma hora, demoram a se adaptar, com apenas sessenta minutos de diferença. Claro que, assim como eu, há os que amam essa mudança de horário, e logo entram no novo ritmo.

Os ritmos de cada organismo passaram a ser estudados depois do século XVIII e reconhecidos apenas no século XX. O estudo desses ritmos recebeu o nome de Cronobiologia.  No Brasil, em 1981, foi criado o Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos, da USP e deram os subsídios para os dados aqui colocados.

Os ritmos biológicos, que existem em praticamente todos os seres vivos, não refletem, necessariamente, a sincronia com as mudanças ambientais. Há diferenças, de pessoa para pessoa. O ciclo do sono é um dos importantes balizadores do ritmo biológico interno de cada organismo, já que as outras funções são influenciadas por ele. A presença de luz, aquela intensa do dia, é um poderoso sincronizador entre ritmos internos e externos. Com a diminuição da luz natural, forma-se uma intrincada e mágica sequência de produção de substâncias. Começa pela liberação do hormônio Melatonina que, além de induzir o sono, age como uma espécie de comandante dos ritmos biológicos. A partir da melatonina, há o estímulo em células imunológicas e a produção do hormônio do crescimento – daí se dizer que o corpo se ‘refaz’ à noite, com a renovação de células e o crescimento – e também a produção de cortisol, pouco antes do despertar, que prepara o organismo para a atividade – por isso os exercícios feitos pela manhã cansam menos.

Com o fim da noite e da pouca luz, vem o dia luminoso, o que interrompe a produção da melanina, e permite que entrem em atividade outros hormônios que vão preparar o organismo para direcionar o foco das atividades – trabalho e estudo – ajustar uso do estômago e funções digestivas para receber as refeições. 

Enfim, a Cronobiologia é um tema bastante interessante e importante, podendo explicar muitos do mal-estares, dores, disposição física e mental. Indo mais fundo, percebe-se que há estímulos externos que dão início a uma intrincada sequência de produção de substâncias para preparar o organismo a enfrentar as atividades de cada etapa do dia, que se repete sistematicamente, e que, quando há algum atraso ou adiantamento, algo mudará. 

Conhecer o ritmo interno permite uma melhor percepção do problema e, com isso, buscar adequar horários para as atividades, para a ingestão de alimentos ou medicamentos, ajustando a sincronia dos ritmos internos e externos, melhorar o sono, prevenir doenças, aliviando problemas e melhorando a qualidade de vida.

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Humberto Mariano
Humberto Mariano
2 anos atrás

Quando eu crescer quero ser cronobiólogo. E curar os chatos que acordam de mau humor

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