Por Simone Lira

Araraquara é uma cidade onde faz muito calor.

Naquele ano, o calor estava tão insuportável que o desenho principal da bandeira da cidade, nunca tinha combinado tanto com o local. Um sol de “rachar coco”, como se diz por aí.

A cidade, no coração do Estado de São Paulo, era a perfeita “Morada do sol” não só no apelido, mas também nos termômetros. 

Naquela terça, a Cidália acordou pensando que ia derreter. 

Era uma senhora muito alegre e inteligente. Tinha netos que adoravam passar o final de semana na casa dela. Então ela sempre aproveitava os dias da semana para fazer coisas com uma amiga.

Naquela manhã teve uma ideia brilhante para o período da tarde:

– Já sei o que vou fazer para passar a tarde longe do calorão. Vou para o cinema com a Maria Helena, ver um filme dos Beatles!

Não tem amiga que resista a um convite para ir ao cinema. Ainda mais para ver os Beatles no conforto do ar condicionado. Então, lá foram elas para uma tarde longe do sol. 

Chegaram quase atrasadas. Compraram as entradas e foram direto para a sala de projeção.

-Cidália, será que dá tempo de fazer xixi?

-Não, Maria Helena! Nem pensar.

Também não deu tempo de comprar uma coisinha para beliscar durante o filme.

Entraram rápido!

-Mas que falta de sorte! Justo hoje o Lanterninha não está a postos. O cinema está tão escuro…

Cidália e Maria Helena não conseguiam enxergar nada, ainda mais porque tinham acabado de vir da rua, onde a claridade era grande.

-Maria Helena, vamos escolher um lugar e sentar logo, para não atrapalhar ninguém.

O cinema estava silencioso. Dava para se ouvir até uma mosquinha voando.

Depois de passarem por várias fileiras, Maria Helena disse:

-Cidália, acho que esse lugar está bom!

Sentaram.

-Opa!!! Falou uma voz.

-Ei, cuidado!! Gritou a outra.

No escuro, Cidália e Maria Helena sentaram no colo de duas pessoas. Que vergonha!!

Parecia que tinham sentado em uma cadeira de espinhos pois, assim que perceberam que era o colo de alguém, deram um pulo pedindo desculpas.

O filme já estava começando. 

As senhoras, envergonhadas, se sentaram e nem olharam para o lado. 

Duas horas depois, o filme finalmente terminou.

Quando as luzes se acenderam, foi um choque! Dentro do cinema só haviam quatro pessoas: Cidália, Maria Helena e as duas pessoas, no colo das quais tinham sentado!

Todo o restante do cinema estava completamente vazio, mas elas conseguiram acertar o colo das duas únicas pessoas que estavam lá antes delas. 

Que vexame! Ficaram tão nervosas com o ocorrido, que deu até calor nas duas. Muito envergonhadas, saíram do cinema sem acreditar na gafe que deram. Para quem queria passar a tarde sem sentir calor, o “calor das emoções” foi grande.

Desta vez, a história que aconteceu no escurinho do cinema, foi mais quente que a história do filme dos Beatles.

Desde aquele ano, elas se divertem lembrando disso com os filhos e netos. Eles sempre brincam com essa confusão e ficam falando que elas precisavam mesmo era ter ido fazer novos óculos, para enxergar as pessoas no cinema. 

-Ah! diz Cidália, a culpa foi da dor de barriga que o Lanterninha teve naquela tarde. Quem mandou ele faltar no serviço? 

Simone Lira: Fonoaudióloga há 30 anos. Autora de dois livros com histórias para atuar em terapia para dificuldades de leitura e escrita. Agora se aventura a escrever para outros públicos.

Comentários

5 2 votos
Article Rating
Se inscrever
Notificar para
guest
0 Comentários
Feedbacks em linha
Ver todos os comentários
0
Adoraria seus pensamentos, por favor, comente.x
()
x

Assine nossa Newsletter!

[newsletter]