Há alguns dias recebi uma mensagem de um primo italiano que me chamou a atenção. É a que segue.

“Morrem.

Está morrendo a melhor das gerações, aquela que, sem estudos, educou seus filhos, aquela que sem recursos os ajudou durante as crises. Estão morrendo aqueles que mais sofreram, que trabalharam como bestas, assim considerados muito mais do que quaisquer outros. Morrem os que passaram tantas dificuldades, os que reergueram cidades e países, e que, agora, queriam apenas usufruir a presença dos netos. Estão morrendo sós e assustados. Estão indo embora sem perturbar, eles que são os que dão menos trabalho. Vão embora sem um adeus.”

O teor do texto, sem dúvida, é para os que se foram e estão indo devido à pandemia.

Mas, minha reflexão se ampliou. Retomando o texto publicado aqui no blog, Anos Estrelados, {favor colocar o link}, fiquei pensando nas gerações que começaram em meados do século passado, entre 1930 e 1960 –  e estão terminando agora. Passaram por situações difíceis, o mundo em conflito, pouca produção artística, todos os olhos voltados para a guerra. As consequências foram muitas. Famílias dispersadas, miséria, trabalho só os mais arriscados, cerca de 80 milhões de mortos. E nada impediu que, os que ficaram, se levantassem e seguissem adiante. Foram à luta. Mudaram de país.  Viveram outras culturas. 

E foi uma geração que se obrigou a ser brilhante. Tudo se voltava para a capacidade econômica, industrial e científica, a serviço da guerra. O mundo se reorientava tanto política como socialmente. A criatividade, a inteligência, a engenhosidade do ser humano foram instigadas ao limite. E o Homo Sapiens mostrou a que veio. Em ciência e tecnologia, os avanços foram enormes, saúde, medicamentos, comunicação, computadores, e tantos outros. Foi um salto enorme para a humanidade. Passamos do Homo Fabris para o Homo Digitalis. Uma transformação bastante acelerada, poucas vezes observada na história do mundo.  Os frutos começaram a ser colhidos e a produção deles não tem fim.  Essa geração precisou se adaptar e tentar entender tantas ações de mudança num espaço de tempo abreviado. Muitos não conseguem se adaptar até hoje.

E essa geração está indo embora. Quer pela calamidade da pandemia, direta e indiretamente, quer pelo fim em si mesmo da própria vida. Muito do que se faz hoje é consequência de pessoas admiráveis que tiveram a coragem de enfrentar desafios, de buscar conhecimento, de pensar no futuro, e que estão se despedindo. As gerações de agora e as próximas terão que reverenciar esses cientistas, artistas, escritores, e, sobretudo, os homens e mulheres que, silenciosamente, deixaram suas marcas nos filhos e netos.  

É possível que esta ponderação tenha um quê de lamento já que sou parte muito próxima desse tempo. Talvez um suspiro mais profundo pelo desenlace de minha geração. Mas, antes de tudo, pela convicção de que o mundo vai esperar muitos anos até a chegada de uma nova época como essa. Uma era, estrelada sim, mas principalmente brilhante. Os efeitos serão sentidos e analisados por muitos anos ainda. Uma sensação honrosa de pertencimento.

Essas gerações deixaram um tesouro para a humanidade, que se apresenta a cada nova ação das novas gerações.

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