Encontrar novas rotas marítimas para chegar às Índias e comprar especiarias foi um dos grandes objetivos dos navegadores portugueses e espanhóis, entre o final do século XIV e o século XV. Assim foi que Colombo chegou ao Caribe em 1492. Entrando em contato com os habitantes locais, passou a conhecer a cultura e os hábitos daquele povo. Percebeu que os alimentos tinham uma certa picância e pressupôs que ali se usava a pimenta – aquela especiaria do oriente tão preciosa e valiosa na alimentação dos nobres europeus. Passou, então, a se referir ao tal tempero com o nome de pimenta, e só depois que a palavra se difundiu nas novas terras, entendeu que provinha de um fruto vermelho e não dos pequenos grãos, redondos e enrugados, que já conhecia, que a ‘pimenta’ das Índias e a ‘pimenta’ do novo mundo não eram a mesma coisa. E a confusão perdura até hoje.

A pimenta preta ou a pimenta do reino (assim denominada para diferenciá-la da nativa) é da família das Piperáceas e pode ser preta, verde ou branca, dependendo de como é preparada. É muito usada em pratos de todos os tipos, com grau de picância moderado. Esses grãos podem ser usados inteiros ou em diversos graus de moagem, mas, para preservar seu perfume e sabor nos alimentos, o melhor é moê-los na hora. Há quem afirme, mesmo sem comprovação, que a moagem muito fina – como a encontrada no Brasil – produz um pó que pode aderir na parede do estômago e prejudicar a saúde. Hoje, nosso país é um dos maiores produtores dessa especiaria.

Já o gênero Capsicum – também conhecido como pimenta hortícula – tem sua origem nas Américas onde são conhecidas também pelo nome de chilli ou aji. Existem centenas de variedades pois surgem da facilidade de cruzamento entre exemplares da mesma espécie e de espécies diferentes, criando frutos com cores variadas – do verde ao vermelho – com tamanhos e formas diferenciadas e chamativas, e ardência em níveis de zero ou muito leve – como o pimentão e a Cambuci – até as muito picantes – cumari, dedo de moça, habanero, pimenta de cheiro, malagueta e tantas outras.

As pimentas hortículas ganharam o mundo e conquistaram o paladar do universo pela variedade de cores, sabores e ardência. Os italianos as denominaram de diavoletto e os franceses de petit diable devido à quentura que provocavam na boca. Esses pequenos diabos são admirados e odiados pelos paladares mais ou menos sensíveis, são fascinantes e, na mesma medida, são repudiados. Estas pimentas podem ser usadas in natura, em conserva, em molhos, em pó ou as suas sementes. E se, inadvertidamente, ao comer algum desses diabinhos, a sensação não for nada agradável, deve-se evitar beber água que pode espalhar mais esta sensação. O melhor é colocar creme de leite na boca e bochechar bastante antes de cuspir. Ou ainda, comer um pedaço de pão ou de batata, ou arroz, que ajudam a absorver a capsaicina, responsável pelo ardor.

As Capsicum são benéficas à saúde. Têm alto teor de vitaminas, ricas em propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, com efeitos cicatrizantes e bactericidas. A capsaicina, um de seus componentes, é usada em emplastros contra dores articulares. Além disso, a picância – que provoca uma sensação semelhante a uma queimadura – libera a produção de endorfinas, produzindo ação analgésica e de bem estar. E, que ninguém nos ouça, pode ajudar na aceleração do metabolismo, colaborando para o emagrecimento. 

E as pimentas hortículas ou as Capsicum influenciam nossa imaginação e nossas crendices. São talismã da sorte, espantam maus olhados, ou se associam a rituais demoníacos, lembrando o fogo do inferno. Pode-se ter o olhar seca pimenteira dos invejosos mas um pé de pimenta pode afastar as más energias. Há quem prefira uma vida apimentada ou apimentar uma relação para dar mais vigor. E, não esquecer: pimenta nos olhos dos outros é refresco….ou algo parecido, é só puxar pela memória.

Indicação: Dicionário Gastronômico: Pimentas – Nelusko Linguanotto Netto – Boccato Editores

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