Hoje começa julho, o sétimo mês do calendário gregoriano, também conhecido como cristão ou ocidental. Existem, ainda, vários outros calendários utilizados por diferentes países e religiões, sendo os mais conhecidos o chinês, o islâmico e o judeu. Pela supremacia econômica que o Ocidente conquistou, em parte pelo voluntário isolamento da China e do Japão a partir do século XVI e pelo declínio do Império Otomano em fins do século XIX, o calendário gregoriano passou a ser utilizado em todo o mundo para as atividades civis.  Ainda assim, todos os calendários preservam suas próprias contagens de tempo, assim como seus feriados e períodos religiosos. Por exemplo, o Dia do Senhor, ou dia do descanso, que é domingo para os cristãos, sábado para os judeus e sexta feira para os muçulmanos.

Desde os mais remotos tempos, o homem calcula o tempo a partir de medições e observações de fenômenos astronômicos. Todos os calendários já existentes foram estabelecidos a partir dos movimentos de rotação da Terra em relação ao Sol ou da Lua em relação à Terra. Por essa razão, existem calendários solares, como o gregoriano e lunares, como o muçulmano. Há, ainda, calendários lunissolares, que procuram ajustar o ano solar com os ciclos mensais lunares. Como doze ciclos lunares têm, em geral, 354 dias, os calendários lunissolares têm, periodicamente, um décimo terceiro mês, o mês lunar, para adequá-lo ao ano solar. Os calendários chinês e judeu são lunissolares.

A evolução da Ciência, ao longo do tempo, trouxe avanços na observação do cosmos e, por consequência, medições mais exatas dos movimentos e das posições do Sol e da Lua. Desde o Concílio de Trento (1545-1563), a Igreja já vinha discutindo a mudança do calendário juliano, principalmente, pela distorção na data de comemoração da Páscoa. A cada ano, o dia 21 de março ficava mais distante do equinócio do Hemisfério Norte (equinócio da Primavera) devido ao erro de onze minutos no cálculo da duração do ano solar. O papa Gregório XIII, então, nomeou uma comissão de cientistas, entre eles o filósofo e matemático calabrês Luigi Giglio, para refazer os cálculos e recomendar os ajustes. O trabalho foi realizado e aprovado pelo papa, que o tornou oficial para a Igreja Católica e para os países cristão, pela bula papal “Inter Gravissimas” de 24 de fevereiro de 1582.

Dessa forma, por determinação papal, os europeus foram dormir na noite do dia 4 de outubro de 1582 e acordaram no dia 15 de outubro do mesmo ano. Dormiram dez dias? Claro que não. O calendário gregoriano suprimiu dez dias do calendário anterior, introduziu nova fórmula de determinação da comemoração da Páscoa e modificou a forma de definir os anos bissextos. Até então, os anos bissextos aconteciam de quatro em quatro anos sem exceções, como até hoje a maioria das pessoas acredita acontecer. Entretanto, se procurarmos em enciclopédias os dias de 29 de fevereiro de 1700, 1800 e 1900, certamente, não os encontraremos.  Isso porque a reforma gregoriana estabeleceu que os anos múltiplos de 100 só serão bissextos se, também, forem múltiplos de 400, casos dos anos de 1.600 e 2000. Outra coisa que talvez vocês não saibam e precisam estar preparados: no ano de 4.909 será suprimido mais um dia do calendário, devido ao erro de 26 segundos na duração do ano solar que o calabrês Giglio não resolveu lá atrás. 

Os calendários, ainda que estabelecidos cientificamente, não estão isentos das circunstâncias e das vontades políticas dos poderosos. Julho, por exemplo, chamava se “Quintilis”, o quinto mês do ano no antigo calendário romano. Com a reforma juliana, em 46 A.C., passou a ser o sétimo mês do ano e renomeado para homenagear Júlio César, autoridade máxima em Roma, o primeiro dos Doze Césares e o único que não foi Imperador. Da mesma forma, quando Otávio Augusto se tornou o primeiro imperador romano, o mês “Sextilis” passou a se chamar Agosto e ganhou mais um dia, roubado de Fevereiro, para ter o mesmo número de dias do mês dedicado a Júlio César. Também, por questões político-religiosas, o calendário gregoriano demorou muito para ser aceito pela maioria dos países. Os protestantes viam no calendário papal uma interferência da Igreja Católica em sua soberania e direitos. Inglaterra e Alemanha, por exemplo, só aderiram ao novo calendário a partir do século XVIII, mais de cem anos depois.

Apesar daquele dia que perderemos em 4.909, temos o consolo de que no calendário gregoriano temos uma idade menor do que se vivêssemos na China, na Arábia Saudita ou em Israel, onde os anos normais têm apenas 354 dias. Por fim, neste 1 de julho de 2021, a China está no quinto mês do ano de 4.719, o ano do Boi. Na Arábia Saudita, está chegando o final do ano de 1.442, assim como em Israel, que daqui a dois meses entrará no ano de 5.782. Por favor, não se confundam com os boletos.

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